Desde que Boogie Nights foi lançado nos cinemas, há mais de dez anos, muita coisa aconteceu na carreira de Paul Thomas Anderson. O diretor se consagrou com a obra-prima Magnólia, lançou o menor, mas subestimado, Embriagado de Amor e se consolidou como um dos maiores diretores do cinema contemporâneo com o impressionante Sangue Negro. No entanto, é muito bom ver o quanto a história de Dirk Diggler envelheceu bem, o quanto Boogie Nights continua sendo o grande filme que já mostrava ser naquele ano de 1997. Anderson, então apenas em seu segundo longa-metragem, já demonstrava impressionante domínio na direção, com seu recorrente de planos-sequência que conduzem o espectador (e o inicialmente inocente protagonista) pelo universo do cinema pornô da década de 1970.
O diretor também começava ali a chamar atenção por outra de suas outras grandes qualidades: o talento para arrancar grandes desempenhos de seus atores. Se em Magnólia Anderson nos premiaria com aquela que talvez seja a melhor atuação da carreira de Tom Cruise; se em Embriagado de Amor ele conseguiria a proeza de fazer com que Adam Sandler apresentasse uma veia dramática inimaginável (sem contar sua parceria com um ator conhecidamente genial como Daniel Day-Lewis em Sangue Negro, que gerou um trabalho tão espetacular quanto se poderia esperar); em Boogie Nights, Anderson não só revelou o ótimo, e muitas vezes subestimado, Mark Wahlberg, como compôs um impressionante mosaico de coadjuvantes no qual todos, sem nenhuma exceção, entregam atuações impecáveis. Don Cheadle, Phillip Seymour Hoffman, William H. Macy, Luiz Gusmán, Heather Graham, John C. Reilly, Alfred Molina ... não há no elenco de Boogie Nights alguém que não tenha um grande momento em cena e que não contribua para a veracidade da jornada pela qual Paul Thomas Anderson leva o espectador. Mas há dois nomes que merecem um destaque a parte: Julianne Moore e Burt Reynolds, ambos indicados ao Oscar nas categorias de coadjuvantes na cerimônia de 1998 (derrotados por Kim Basinger e Robin Williams, respectivamente). Moore e Reynolds criam as figuras mais fascinantes do filme, duas pessoas que, sob a máscara de um suposto glamour (pois são, claramente, os mais bem-sucedidos profissionalmente naquele rol de personagens), escodem emoções reprimidas e sonhos frustrados que, quando vêm à tona, dão origem aos momentos mais comoventes do filme de P. T. Anderson. É difícil não se sensibilizar com a afeição materna que a personagem de Moore desenvolve em relação a Eddie Adams/Dirk Diggler e não sentir pena daquela mulher em suas tentativas frustradas de recuperar a guarda de seu filho. Assim como é difícil não se encantar com o Jack Horner de Reynolds e não sofrer com ele na maravilhosa cena da limousine, ao mesmo tempo catártica e trágica. Aliás, é no desempenho de Reynolds que Anderson deixou realmente claro seu imenso talento para a direção de atores: conhecido astro de filmes de ação dos anos 70, o ator, canastrão por excelência, surpreende imensamente ao dar vida a um sujeito simples, humano, mas de uma presença que impressiona. Não é tão difícil entender o fascínio que o sujeito gera em Eddie Adams, convencendo-o a entrar no cinema pornô.
Contando com referências a outros cinemas, sobretudo o de Martin Scorsese (como não pensar em Touro Indomável diante da cena final de Boogie Nights? Como não lembrar de Os Bons Companheiros a cada plano-sequência de tirar o fôlego construído por Anderson? Como não pensar em muitos filmes de Scorsese diante da saga de um homem que sai do nada para o auge e do auge para o fundo do poço?), Boogie Nights é um filme que se agiganta com o passar do tempo. E que, mesmo que não fosse essa a pretensão de Paul Thomas Anderson, não deve em nada aos filmes do mestre Scorsese aqui citados.
Boogie Nights, 1997
Paul Thomas Anderson
3 comentários:
Fala, Wallace! Parabéns pelo novo blog! Gostei do visual dele, e gostei do fato de que agora vc dá uma avaliação pros filmes, além da resenha. Fica mais fácil de saber suas preferências, hehehe. Mas por que mudou? Estava cansado do domínio "blogger"? A única "pena", é que vc vai ter que abandonar aquele layout... acho que já te falei que, pra mim, aquele é o layout mais bacana de blogs de cinema, né? Mas esse também ficou muito bacana, tá mais clean e mais leve... enfim, boa sorte no novo blog! Abraço!!!
Pois é Bruno, gostava do meu layout antigo, mas já tava meio cansado daquele blog, queria fazer umas mudanças ... e o blogger arranjou uma complicação lá, que não conseguia mais acessar o blog, daí aproveitei e mudei.
Há uma possibilidade de que eu faça algumas modificações no visual deste novo blog, dê uma incrementada, mas ainda não sei. Também gostei desse visual clean.
Abraço !
Então Wallace, demorei, mas passei por aqui. Legal seu novo espaço. Sobre o filme do PTA, não acho o melhor dele, mas com certeza revela um talento tremendo de direção aliado a uma grande segurança para contar uma história. Ele tem personalidade e Boogie Nights é uma delícia de ver, pelo dinamismo das cenas. As atuações são um caso à parte e eu destacaria a Julianne Moore dentro de um elenco fenomenal. Valeu!!!
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