sábado, 27 de dezembro de 2008

No cinema: Romance

[romance]

Romance
Romance, 2008
Guel Arraes


Romance é um filme que quase "chega lá". Primeiramente, o longa é um prazer para quem acompanha a carreira de Guel Arraes, e vê o salto de maturidade que esse trabalho representa em relação às suas comédias populares sobre o Nordeste brasileiro (como O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro), que, apesar de divertidas e valorosas em muitos sentidos, provavelmente já deram o que tinham que dar (e o fracasso do apenas razoável O Coronel e o Lobisomem aponta nessa direção). E esse salto não se dá apenas pela mudança de gênero, mas mesmo pela abordagem de Arraes: Romance é um filme leve e descompromissado sim, mas possui um olhar bastante apurado acerca dos universos que retrata (o do teatro e o da TV), fazendo críticas e brincadeiras com eles com a maturidade necessária para que o filme não se tornasse um amontoado de lugares-comuns. Nesse sentido, Arraes acerta profundamente na composição de seu elenco, encabeçado por um ótimo Wagner Moura e por uma ainda estonteante Letícia Sabatella, mas que tem em um José Wilker com um timing perfeito sua grande sacada para criticar os bastidores da TV.
Curiosamente, é justamente na história de amor que conta que Romance comete seus principais erros. Digo curiosamente porque, primeiramente, o casal Moura e Sabatella funciona perfeitamente, ao mesmo tempo que todo o paralelo estabelecido entre a história do casal e a de Tristão e Isolda acaba também funcionando, conseguindo a proeza de não soar forçado em excesso. No entanto, Arraes peca, primeiramente, ao contar sua história de uma forma demasiadamente acelerada: o tempo passa, mas só os personagens percebem. Em alguma medida, essa escolha remete ao maravilhoso Closer - Perto Demais, mas, infelizmente, Romance está muito longe de alcançar toda a dureza e sinceridade do filme de Mike Nichols.
O segundo equívoco de Arraes está no personagem de Vladimir Brichta. Apesar do desempenho competente do ator, Arraes parece encaixá-lo na trama simplesmente para criar um triângulo amoroso com o casal de protagonistas, o que acaba soando exageradamente forçado e artificial. O envolvimento do personagem de Brichta com a de Sabatella ocorre todo muito rapidamente, e em nenhum momento o espectador consegue realmente acreditar naquela paixão, o que acaba por comprometer o êxito do filme.
São nesses pequenos deslizes, que parecem mais resquícios de alguns vícios televisivos, já que boa parte de seu trabalho até aqui estava ligado a esse meio, que Guel Arraes perde a oportunidade de entregar uma pequena grande obra, para entregar apenas um bom filme. O que não deixa de ser um passo importante nessa sua transição de um cinema burlesco para algo mais sério e profundo.

Um comentário:

Bruno disse...

Estou interessado em conferir "Romance", porque o Guel Arraes é um diretor que me agrada, e é sempre bom prestigiar os cineastas que gostamos. O problema é que estou aproveitando esse tempo livre que estou tendo no final do ano para conferir todos aqueles filmes importantes que estreiaram em 2008, e que eu não pude conferir. Portanto, acho que só irei assisti-lo quando chegar em dvd. Abraço!