Cobrar originalidade de um gênero como comédia romântica pode ser um esforço em vão. E festejar a suposta originalidade e frescor de um de seus exemplares pode ser uma experiência enganosa. É o caso desse elogiado (500) Dias com Ela, que realmente tem algumas sacadas muito boas, faz algumas brincadeiras com a linguagem cinematográfica que geram bons momentos, mas que é, em geral, apenas mais do mesmo. Juro que fui assistir ao filme aberto à possibilidade de apreciá-lo. Na verdade, esperava gostar muito dele, especialmente por motivos pessoais. Aliás, qualquer um consegue se identificar com aqueles personagens, com o protagonista apaixonado (vivido pelo excelente Joseph Gordon-Levitt, de longe a melhor coisa do longa, e que realmente é a cara de Heath Ledger) que se perde diante de expectativas amorosas não correspondidas, que sofre com seus próprios devaneios em torno da correspondência ou não de seu amor. Quem nunca sofreu por esse maldito sentimento? No entanto, o grande problema do filme de Marc Webb é ficar, digamos, em cima do muro. Por um lado, ele tenta ser "esperto", realizar as tais brincadeiras que, em alguns casos, são realmente inteligentes (a sequência musical pós-primeira noite do casal é um achado, e a sequência da oposição "expectativa-realidade" fez-me pensar, por um breve momento, estar diante de uma verdadeira novidade), mas em outros, nem tanto (o trocadilho final, por exemplo, é constrangedor). Ao mesmo tempo, Webb não consegue romper com lugares-comuns das comédias românticas, e é aqui que seu filme afunda. Assim, tem-se os amigos abobalhados, as músicas simpáticas como trilha sonora e um final profundamente equivocado - ou Webb e seus roteiristas levavam o martírio do protagonista até o fim, ou apelavam para a óbvia reconciliação, mas jamais deveriam ter caminhado para o artificialismo daquela sequência final. Em seu epílogo, (500) Dias com Ela se perde definitivamente, e confirma, em sua ânsia de ser uma comédia romântica diferente, "original", o quanto é banal e igual a tantas outras.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
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6 comentários:
Não concordo com alguns textos seus, mas são bem escritos e isso é indiscutível.
Obrigado, Rita. E acho ótimo que discordem dos meus textos, de verdade.
Caro Wallace, seu blog tem um aspecto preciso de bom cinema, boas analises e conteudo.
É gratificante sempre vir aqui, compartilhar um pouco de suas ideias e mundo nético, parabéns pelo blog!
sigo vc ja!
Sério que você não gostou, cara? Eu adoro o filme. Acho que o fator inovação não precisa ser uma constante, ou se levar tão a sério assim. A estrutura do filme pode não ser das mais originais, mas pelo simples fato de ser leve, ter um ritmo agradável, já vale o filme. Soma-se a isso a bela atuação do Joseph Gordon-Levitt, a química entre os dois atores e o texto bacaninha. Gosto muito também da forma como o filme equilibra os estados de espírito do protagonista, ora muito triste, ora felicíssimo.
Sobre o final, não consigo, de forma alguma, achar incoerente ou artificial. A dificuldade da personagem em manter um relacionamento sério não foi superada. A possibilidade de se recuperar de uma paixão através de outra é bastante normal. Não vejo mal algum no uso desse artifício. Inclusive, a epígrafe do filme já sinalizava isso. Summer é uma "bitch"! hahahuahua
Rafael,
eu acho que o problema do filme não é ser clichê. É fingir não ser clichê, quando na verdade é. Também acho o Gordon-Levitt muito bom, e me parece que, se o filme terminasse naquela conversa final entre o casal, garantiria ao menos mais uma estrelinha aqui... mas a cena final realmente me incomoda! Ou melhor, nem tanto a cena final, mas como termina a cena final... entende? Quer dizer, se a moça lá realmente desse um fora nele, ao menos o clima amargo continuaria. Como não foi assim...
Primeira opinião decepcionante que leio a respeito deste filme.
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