quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Árvore da Vida



A Árvore da Vida é o filme mais difícil de Terrence Malick e não há nenhuma surpresa nisso. Se quando tratou de grandes eventos históricos (em Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo) o diretor já construíra trabalhos de complicado acesso para um público acostumado com um cinema puramente narrativo, ao tomar como tema a existência humana e seus muitos porquês Malick se permite todo tipo de devaneio - chegando ao ápice de filmar a origem da vida numa belíssima e devastadora sequência que acaba por produzir, num primeiro momento, uma incômoda sensação de pequenez do drama mostrado diante da grandiosidade do poder de criação e destruição da natureza (ou seria de Deus?).

Mas Malick é um humanista e seu interesse é primordialmente a vida humana. Daí a dedicação de sua câmera aos personagens que povoam A Árvore da Vida pelo resto de sua duração ser tão impressionante: ela se move com eles, se aproxima, parece encantada por aqueles pequeninos seres vivos que, em sua estranha complexidade, são absolutamente únicos. A delicadeza com que o diretor acompanha o cotidiano de uma família no Texas da década de 1950, sob os olhos de um dos filhos que a compõem, é típica de seu cinema - Malick parece ter um grande carinho por aqueles personagens, e mesmo a figura do pai autoritário interpretado por Brad Pitt exala amor e preocupação (de seu próprio modo) pelos seus.

Esse momento intermediário de A Árvore da Vida, que vai do pós-origem da vida até as proximidades da sequência final, é o de mais fácil apreensão - ainda que não estejamos falando de uma narrativa clássica, tradicional, e que esse longo trecho seja permeado pelo uso escasso de diálogos e pelo off carregado de reflexões filosóficas que tanto marcaram os últimos filmes do diretor (na verdade, se bem me lembro, apenas Terra de Ninguém não é composto dessa forma). Bem, talvez "fácil" não seja o melhor termo a ser usado aqui... já o todo do filme é praticamente impossível de ser apreendido e devidamente apreciado assim, numa tacada só. Me lembro de ter precisado assistir Além da Linha Vermelha (ainda meu favorito de Malick) três vezes até entender toda sua força - o que certamente significa que ainda tenho algumas revisões de A Árvore da Vida pela frente. Por enquanto, o que fica é a impressão (e só isso) de um filme muito, muito bonito.


A Árvore da Vida 
The Tree of Life, 2011
Terrence Malick

terça-feira, 18 de outubro de 2011


[thor]

Thor
Thor, 2011
Kenneth Branagh


Não é fácil encontrar a mão de Kenneth Branagh em Thor. Juro que tentei. Talvez o caminho mais óbvio seja procurá-la no tom meio shakespeareano dado à relação do protagonista com seu pai e com seu irmão, mas ainda assim me parece muito pouco - o outrora aclamado Branagh é mesmo aqui somente um diretor de aluguel.
Não que isso transforme Thor em um filme ruim, pelo contrário. Seguindo o recém-estabelecido "padrão Marvel" (ou padrão The Avengers) de qualidade, o filme do Deus do Trovão tem lá seus méritos: trafega bem entre as duas dimensões em que sua história se desenrola, conseguindo tornar plausível uma trama intrinsecamente absurda, e se beneficia enormemente do carisma de seu ator principal, Chris Hemsworth, que constrói um Thor adorável em sua arrogância. É um filme rápido, bem produzido (não só tecnicamente, mas também na construção de um roteiro amarrado e na oferta de desempenhos convincentes por parte de seus atores), divertido, com tudo no lugar (ainda que o desperdício de Natalie Portman em um papel extremamente bobo seja um crime digno de punições severas). Mas reside aí também a sua (e de todos os filmes que confluirão para The Avengers) maior limitação: tal qual Homem de Ferro (1 e 2), O Incrível Hulk e Capitão América, Thor não consegue ir muito além do agradável. O que nos leva novamente à decepção gerada pela presença inócua de Branagh na direção.
Com liberdade autoral, talvez o diretor fizesse simplesmente algo como o Hulk de Ang Lee, típico filme bom que ninguém gosta, mas ao menos veríamos na tela algum traço do sujeito que entregou, só para citar um exemplo, aquela que é provavelmente a melhor versão de Hamlet para o cinema. Do jeito que foi feito, Thor poderia ter sido comandado por qualquer Jon Favreau, Louis Leterrier ou Joe Johnston da vida...