sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

[vencer]

Vencer

Vincere, 2009

Marco Bellocchio



Talvez os objetivos do veterano diretor Marco Bellocchio com Vencer possam ser resumidos em apenas uma cena de seu longa, ocorrida logo em seus primeiros momentos: Benito Mussolini e Ida Dalser transam; ela, enlouquecida por aquele homem enigmático, forte, decidido, se entrega completamente, declarando, apaixonadamente, que o ama; ele, penetra-a com força, impassível, enquanto olha triunfante para a frente – um olhar que demonstra invencibilidade, poder e, acima de tudo, monstruosidade. No fim das contas, para além da trágica história da mulher que amou loucamente Mussolini e foi depois abandonada por ele, Vencer é sobre essa Itália que também se entregou àquele homem, encantada com suas promessas e, acima de tudo, com seu poder de decisão e sua força de vontade, e que acabou violentada, traída, abandonada.

Disse talvez, lá no início, porque, por mais que essa interpretação me pareça acertada, é difícil não reconhecer que muito do êxito do filme está na figura de Ida Dalser, e na tragédia que foi sua vida – ou seja, na história daquela mulher, mais do que na História política de um país. E tanto Bellochio quanto Giovanna Mezzogiorno merecem ser exaltados aqui. O diretor, por construir uma narrativa poderosa, com um ritmo frenético que lembra em muito tragédias operísticas em sua primeira metade, e com um clima melancólico, carregado com belas imagens na segunda parte (a sequência do Natal, por exemplo, é de uma beleza gigantesca). A atriz, por conseguir transformar uma mulher que é, no fim das contas, uma fascista, alguém que compartilha quase que completamente dos ideais de Mussolini (que, aliás, é interpretado por um Filippo Timi que consegue superar a pouca semelhança física com o ditador, ao menos em um primeiro olhar, encarnando-o com uma intensidade impressionante, reproduzindo com perfeição seu jeito de se portar, seus olhares e pequenos gestos e fazendo com que, o que é o mais importante, compreendamos o fascínio exercido por aquele homem sobre os que o cercavam), em uma figura emocionante, com a qual é difícil não se identificar. Ao mesmo tempo mulher e alegoria de um país. Em ambos os casos, vítima do mesmo homem. Mais comovente, impossível.

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