quinta-feira, 30 de maio de 2013

Terapia de Risco



Steven Soderbergh é uma das maiores decepções cinematográficas das últimas duas décadas. Tendo iniciado a carreira com o celebrado Sexo, Mentiras e Videotape , filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes e do qual me lembro muito pouco, o diretor norte-americano investiu, especialmente a partir de fins dos anos 90, num ecletismo inócuo, que passou a ditar o ritmo frenético de sua carreira. Soderbergh trafegou pelo drama, pela comédia, pela ficção-científica existencialista, pelo filme de baixíssimo orçamento, pelo noir, pela ação... algumas poucas vezes acertou (Che, Traffic e especialmente Irresistível Paixão, ainda seu melhor trabalho), mas em tantas outras realizou obras que, se não eram exatamente bombas, ficavam muito aquém do que se esperava de um diretor premiado, e supostamente talentoso, como ele. Soderbergh virou um chato. E agora, ao que parece, a fonte secou, levando-o a anunciar uma prematura aposentadoria.

Terapia de Risco é o último filme para cinema de Steven Soderbergh. Com sua narrativa de altos e baixos, que não sabe exatamente o que quer, parece a escolha perfeita para encerrar uma carreira cambaleante como essa. O roteiro de Scott Z. Burns começa como um drama sobre vício em medicamentos que o diretor até consegue conduzir bem, apoiado principalmente no bom desempenho de Rooney Mara, mas, de repente, se transforma num thriller mal ajambrado, com personagens revelando não ser o que pareciam ser (vez ou outra descrevendo de maneira artificial as minúcias de seus planos, como fazem os exemplares mais preguiçosos do gênero) e reviravoltas que se sucedem, confundindo o espectador sobre o que exatamente está acontecendo em cada momento. A virada na trama pode soar esperta e ousada, mas ela acaba enfraquecendo absurdamente uma história que, se bem desenvolvida, poderia ser das mais interessantes e complexas do ano. Terapia de Risco é, em suma, o ponto final medíocre numa filmografia medíocre.


Terapia de Risco 
Side Effects, 2013
Steven Soderbergh

domingo, 26 de maio de 2013

Os melhores filmes de Billy Wilder


Mais conhecido por suas muitas comédias, Billy Wilder foi, na verdade, um nômade dos gêneros cinematográficos, trafegando por quase todos eles. Podemos colocar na sua conta, por exemplo, um dos mais fortes dramas já feitos sobre o alcoolismo, um memorável filme de tribunal, um dos melhores exemplares do noir e o mais ácido e melancólico retrato de Hollywood que o cinema já pintou. Além, é claro, de suas geniais e inigualáveis comédias. Grande contador de histórias, esse diretor proveniente de uma região hoje pertencente à Polônia, e que foi para os Estados Unidos fugindo do nazismo, venceu 6 Oscars e se firmou como um dos maiores realizadores da história do cinema mundial. Um entertainer que as novas gerações de cineastas insistem em, felizmente, reconhecer - como o fizeram Sam Mendes e Michel Hazanavicius, quando premiados pela Academia por Beleza Americana e O Artista, respectivamente. Sem Wilder, esses celebrados filmes recentes não existiriam. 

10- Uma Loura por um Milhão
The Fortune Cookie, 1966


9- Testemunha de Acusação
Witness for the Prosecution, 1957


8- Irma la Douce
Irma la Douce, 1963


7- Inferno nº 17
Stalag 17, 1953


6- A Montanha dos Sete Abutres
Ace in the Hole, 1951


5- Quanto Mais Quente Melhor
Some Like it Hot, 1959


The Lost Weekend, 1945


3- Pacto de Sangue
Double Indemnity, 1944


Sunset Boulevard, 1950


1- Se Meu Apartamento Falasse
The Apartment, 1960


terça-feira, 14 de maio de 2013

O Homem que Ri



O livro L'Homme qui rit (1869), de Victor Hugo, já havia sido levado ao cinema algumas vezes, sendo que a versão de 1928, protagonizada por Conrad Veidt, se tornou um pequeno clássico. No entanto, essa nova adaptação, dirigida por Jean-Pierre Améris, é um desastre completo. O diretor resolveu brincar de ser Tim Burton e fazer um filme todo estilizado, mas acabou se apropriando também do pouco cuidado que o cineasta norte-americano tem com o roteiro de suas obras (especialmente as mais recentes). Assim, O Homem que Ri até tem um visual bonito, mas é oco por dentro: conta de maneira apressada uma história que poderia render algo impactante, se tratada com a seriedade de um Vênus Negra, por exemplo, e não se esforça minimamente para desenvolver seus personagens, figuras unidimensionais que trafegam pela narrativa sem conseguir produzir nenhuma sensação no espectador (a não ser sono, talvez). 

Mas há salvação para o filme de Améris. Quem sabe ele não encontra morada entre os irritantes fãs de Tim Burton, com seu discurso pseudo-intelectual de louvação à supostamente genial estética gótica/expressionista do cineasta? Quem sabe não surge até a proposta de um remake em língua inglesa, com Johnny Depp no papel principal? 


O Homem que Ri 
L'Homme qui Rit, 2012


Jean-Pierre Améris

domingo, 12 de maio de 2013

Adeus, Minha Rainha



Maria Antonieta, rainha da França a partir de 1774 e executada, em 1793, pela revolução que tomara o país quatro anos antes, foi recentemente retratada de maneira juvenil e positiva num belo filme de Sofia Coppola, que tinha propósitos bem distintos desse Adeus, Minha Rainha, de Benoit Jacquot, no qual a personagem é vivida por uma estonteante Diane Kruger. Aqui, interessa ao diretor acompanhar os primeiros dias da Revolução Francesa sob a ótica dos que habitavam Versalhes, mais especificamente, dos criados da nobreza. A protagonista é a leitora oficial de Maria Antonieta, jovem que guarda uma forte paixão pela rainha.

Jacquot fez um filme histórico que poderia ser associado a uma espécie de "história vista de baixo" à inglesa, já que aborda grandes acontecimentos do passado através de micro-olhares daqueles que se encontravam na base da pirâmide social, construindo uma trama que revela muito sobre as relações de classe e sobre as visões de mundo de cada grupo que compunha a sociedade francesa do período. Apesar do ritmo excessivamente lento, Adeus, Minha Rainha consegue manter um clima de tensão constante,  ressaltado pela câmera inquieta de Jacquot (há, por exemplo, um estonteante plano-sequência num estreito corredor cheio de pessoas, no momento em que as notícias da revolução começam a chegar até a nobreza de Versalhes) e pela narrativa que compartilha com o espectador somente as informações que a personagem principal (interpretada pela linda Léa Seydoux) também sabe. Narrativa que Jacquot conclui com uma sequência - acompanhada, a partir de certo ponto, de narração em off - marcada por imensa ironia com seus personagens, dando duro golpe no espectador esperançoso de encontrar heroísmo e salvação no mundo retratado por esse amargo e sofisticado filme.


Adeus, Minha Rainha 

Les Adieux à la Reine, 2012
Benoit Jacquot

sábado, 11 de maio de 2013

Mães cinematográficas


O cinema está cheio de personagens femininas fortes. Muitas delas, mães, boas e más, que marcaram seus respectivos nomes na história do cinema. Aproveitando o dia dedicado a elas, listo abaixo cinco mães cinematográficas inesquecíveis. 


5- Romana (Fernanda Montenegro) em Eles Não Usam Black-Tie (1981)


4- Ellen Ripley (Sigourney Weaver) em Aliens - O Resgate (1986)


3- Manuela (Cecilia Roth) em Tudo Sobre Minha Mãe (1999)


2- Rosemary (Mia Farrow) em O Bebê de Rosemary (1968)


1- Mrs. Bates (Anthony Perkins / voz de Virginia Gregg) em Psicose (1960) 


quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Morte do Demônio



"O filme mais assustador que você verá nesta vida", diz o cartaz do novo A Morte do Demônio. É claro que se trata de uma peça de marketing e que o cinema já produziu obras mais assustadoras que essa. Mas não dá para negar que o diretor estreante Fede Álvarez foi exitoso em fazer um filme difícil de ser esquecido por seu clima sombrio e violência sem limites. Apesar de seguir basicamente a mesma história do original, dirigido em 1981 por um também novato Sam Raimi, o A Morte do Demônio de Álvarez foge do humor (talvez involuntário) do original para apostar num horror barra pesada, de difícil digestão para o grande público (na minha sessão, houve quem desistisse já na cena em que uma das jovens é estuprada pela floresta). Os risos de outrora dão lugar a um incômodo que permanece durante toda a narrativa, mesmo com os exageros de sangue aqui e acolá.

Há quem argumente que o diretor adaptou o hoje cult filme de Raimi ao gosto dos novos consumidores de cinema de horror, aproximando-o do detestado torture porn. Eu discordo, em parte. Se em sua violência brutal A Morte do Demônio até lembra bobagens como O Albergue, Álvarez se afasta de Eli Roth e companhia ao conseguir, com excelentes efeitos visuais práticos e imensa crueldade com seu espectador (que jamais ganha um alívio do inferno em que é lançado), fazer um filme que resiste ao acender das luzes do cinema. Não é fácil tirar da mente algumas cenas de A Morte do Demônio (o já citado estupro, a personagem que corta o próprio rosto com um caco de vidro, o icônico confronto final). Poderia existir homenagem maior ao Evil Dead de Sam Raimi?


A Morte do Demônio 
Evil Dead, 2013
Fede Álvarez