Aproveitando o lançamento do novo filme de Almodóvar nos cinemas, reproduzo aqui o texto que escrevi na ocasião em que assisti-o, no Festival do Rio desse ano. Reprodução com algumas pequenas modificações, já que, de lá para cá, Abraços Partidos cresceu em minha memória.
Juro que esperava de Abraços Partidos o oposto do que ele realmente é. Havia imaginado um filme ultra-pretensioso, que investisse em um excesso de metalinguagem (por ter o próprio mundo do cinema como um de seus temas centrais), possuindo uma narrativa de difícil apreensão – o que, imaginei, talvez explicasse a recepção morna ao filme de Almodóvar. Pois o que vi foi justamente um trabalho extremamente simples, uma mistura de suspense ao estilo Brian De Palma (em alguns momentos é quase impossível não lembrar-se de Dublê de Corpo e Vestida para Matar) com algumas pitadas de comédia almodovariana, onde nada é difícil de se compreender, havendo até mesmo um excesso de clareza narrativa. E confesso que, nesse sentido, gostei do que vi. Abraços Partidos acabou sendo uma boa surpresa. Entretanto, o filme tem lá seus problemas, sendo a irregularidade o maior deles: se em seu início, com suas primeiras idas e vindas no tempo, tudo funciona maravilhosamente bem, lá pelo meio da história as coisas se perdem um pouco, e a resolução do triângulo amoroso apresentada por Almodóvar não deixa de ser um tanto decepcionante. Da mesma forma, tudo envolvendo o personagem Ray-X é tratado com pouco cuidado, e algumas revelações já próximas ao epílogo, feitas por Blanca Portillo, soam demasiadamente didáticas, forçadas, e mesmo melodramáticas (no caso da última delas, a seu filho). Apesar de ser um admirador do cinema de Almodóvar especialmente quando este assume um tom mais sério, a partir de Carne Trêmula (chegando a seu melhor trabalho em Fale com Ela), curiosamente, achei que nesse Abraços Partidos os grandes momentos ficam por conta do lado cômico do diretor – é o velho "jovem Almodóvar" dando sinais de vida, e lembrando-nos do quanto ele ainda sabe arrancar risos da platéia.
P.S.: É impressionante como, a cada dia que passa, Penélope Cruz não só evolui como atriz (especialmente quando atua em espanhol) como se torna mais e mais linda.
6 comentários:
Cara, desde Volver, que eu adorei, eu acompanho tudo que sai do Almodovar...esse eu ainda não vi, mas está dentre os primeiros da minha lista!
Com relação à Penélope, eu adoro ela. Não é só uma excelente atriz como, pra mim, é a mais bonita de hollywood!
bjss
Então, Priscila, eu só acho que, até agora, a Penelope não fez nada realmente bom em Hollywood. Ou melhor, até fez bons filmes, mas suas atuações em inglês costumam ser pífias (ainda não vi o recente FATAL, por exemplo, mas em geral é isso que acontece). Já em espanhol, ela cresce monstruosamente. E o melhor exemplo disso é o filme PRESO NA ESCURIDÃO, do Amenábar, em que ela está muito bem. Na sua refilmagem norte-americana, VANILLA SKY, ela está muito mal, interpretando simplesmente o mesmo papel!
Quanto ao Almodóvar, é um grande cineasta, e vale a pena conhecer a fundo sua carreira. Para mim, seus melhores são FALE COM ELA e CARNE TRÊMULA.
Opiniões divergentes, mas minha vontade de ver só cresce. Sua crítica ajudou muito neste aspecto.
Vejo certamente nas férias de final de ano.
"P.S.: É impressionante como, a cada dia que passa, Penélope Cruz não só evolui como atriz (especialmente quando atua em espanhol) como se torna mais e mais linda."
Eu não poderia concordar mais. Acho ela deve muito à Almodóvar, que serviu de mentor à ela.
Sim, Wally, ela funciona incrivelmente nos filmes dele. Volver que o diga.
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