domingo, 18 de novembro de 2012

Argo



Ben Affleck é um cara esperto. Quando ninguém mais parecia levá-lo a sério, por ter investido numa carreira de ator recheada de papéis ruins em obras de gosto no mínimo duvidoso (ele trabalhou duas vezes com Michael Bay, por exemplo), o melhor amigo de Matt Damon resolveu se transformar em diretor de cinema, apostando em filmes pequenos, de temática urbana e pegada policial: o ótimo Medo da Verdade e o excepcional Atração Perigosa, ambos ambientados em sua Boston natal. De onde poucos esperavam surgiu um cineasta promissor, com pleno domínio de seu ofício e um inusitado talento para arrancar grandes desempenhos de seus atores.

Argo, terceiro longa-metragem do Affleck diretor, é a confirmação de seu êxito nessa nova função. Saindo pela primeira vez de sua zona de conforto geográfica, ele constrói um thriller político exemplar: carrega na atmosfera tensa que cerca a missão de seu protagonista, deixando sempre viva no espectador a noção exata do risco que aqueles personagens correm e leva muito a sério a pesquisa e a reconstituição histórica do contexto retratado, sem deixar, todavia, de introduzir passagens claramente ficcionais (ou que exageram o que realmente aconteceu) com o propósito de aumentar o nervosismo em torno do que é mostrado na tela (caso das duas sequências mais tensas de Argo, a visita ao mercado popular de Teerã e o epílogo no aeroporto). E a opção de Affleck e do roteirista Chris Terrio pela ficção quase escrachada nesses momentos (principalmente no segundo deles) passa longe de incomodar, afinal, não é também do poder da mentira em Hollywood que o filme está falando?

Apesar de não ter a força dramática visceral de Atração Perigosa (ainda seu melhor filme), até pela necessidade de apostar num alívio cômico que, apesar de funcionar por si só ("Argo fuck yourself" é provavelmente a fala mais memorável do cinema em 2012) parece um tanto deslocado do clima sério da narrativa, Argo é o terceiro grande trabalho consecutivo de Ben Affleck na direção. Poucos cineastas em início de carreira conseguiram se manter tão regulares.

Argo 
Argo, 2012


Ben Affleck

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Top 5: Os melhores filmes de vampiros


Em "homenagem" ao encerramento da Saga Crepúsculo, deixo aqui, especialmente para os fãs de Edward, Bella e companhia, essa singela lista de sugestões de filmes realmente bons protagonizados por vampiros. São todas obras relativamente recentes (a mais antiga delas está prestes a completar trinta anos) e fáceis de se encontrar.


5- Vampiros
Vampires, 1998
John Carpenter


4- Fome de Viver
The Hunger, 1983
Tony Scott


3- Entrevista com o Vampiro
Interview with the Vampire, 1994
Neil Jordan


2- Deixa Ela Entrar
Låt den rätte komma in, 2008
Tomas Alfredson


1- Drácula de Bram Stoker
Bram Stoker's Dracula, 1992
Francis Ford Coppola


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

007 - Operação Skyfall



Sempre tive os filmes de James Bond em baixa conta, como aventuras bobas e repetitivas com um protagonista que me parecia anacrônico e pretensamente charmoso. Tolice minha, sei disso, mas foi só com o início da releitura do personagem em Cassino Royale, que se estende até hoje, que comecei a realmente me importar com 007. Vivido, desde o filme de 2006, por Daniel Craig, o agente secreto britânico foi transformado numa figura brutal, letal, mas também vítima de ameaças à sua vida que soam um tanto mais críveis que aquelas enfrentadas nos tempos de Sean Connery, Roger Moore, Pierce Brosnan e outros. É verdade que há aí um bocado do fetiche do realismo que tomou conta do cinema de ação norte-americano nos últimos anos, sobretudo após o Batman de Christopher Nolan, mas é verdade também que a filiação a essa estética, junto com a presença viril, por vezes grosseira, de Craig no papel de Bond, deram uma nova e interessante cara à franquia, depois de anos de mais do mesmo.

Skyfall não foge a essa regra. Como Martin Campbell em Cassino Royale e Marc Forster em Quantum of Solace, Sam Mendes leva o mundo de James Bond muito a sério, estruturando a narrativa de seu filme sobre a relação entre o agente secreto e M (Judi Dench), sua superior, entre o velho e o novo, o arcaico e o moderno. A aposentadoria da chefe do MI6 parece estar a caminho após uma missão fracassada, que a expõe publicamente; 007, por sua vez, é questionado pelo personagem de Ralph Fiennes se não deveria deixar as missões de campo para agentes mais jovens. Completando 50 anos em 2012, a franquia James Bond poderia soar velha, mesmo repaginada. Não seria a hora de abrir espaço para novos heróis? "Juventude nem sempre significa modernidade", responde o protagonista a um jovem Q (Ben Whishaw) em determinado momento do filme. Esse é o recado de Mendes e Bond ao público de cinema do século XXI.

Skyfall está profundamente marcado por essa dialética entre novo e velho. Ao mesmo tempo que é recheado de homenagens e citações a outras obras da série, permanece na estética realista de seus dois predecessores. Ao mesmo tempo que volta ao passado de Bond e de M, aponta para um futuro promissor para a franquia, ao introduzir personagens como os de Whishaw e Fiennes. Nostálgico, classudo, mas cheio de vigor, Skyfall é como seu protagonista, adepto incorrigível do hobby de ressuscitar, vez ou outra, ainda mais forte.

E, se faltava a essa nova fase de 007 um vilão memorável, Javier Bardem deu um jeito de resolver esse problema.


007 - Operação Skyfall  
Skyfall, 2012
Sam Mendes

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Gonzaga - De Pai para Filho


Gonzaga - De Pai para Filho 
Gonzaga - De Pai para Filho, 2012
Breno Silveira


Gonzaga - De Pai para Filho é mais um exemplar desse cinema digno produzido por Breno Silveira. Assim como 2 Filhos de Francisco, Era Uma Vez... e À Beira do Caminho, o filme narra uma história popular com linguagem extremamente acessível, mas nunca se torna um trabalho televisivo, como acontece frequentemente com tantos filmes brasileiros. E novamente o diretor consegue emocionar flertando com o melodrama, mas mantendo um tom contido na dramaturgia.

A rigor, Gonzaga é um filme-irmão de 2 Filhos de Francisco. Se no longa de 2005 Silveira mostrava-se muito mais preocupado em contar a história de um pai obsessivo em sua dedicação a um sonho para seus filhos do que em fazer um filme sobre Zezé Di Camargo e Luciano, agora o diretor mantém no centro de sua narrativa a conturbada relação entre Luiz Gonzaga e seu filho famoso, Gonzaguinha (interpretado de maneira quase espírita por Julio Andrade). A ascensão do personagem-título ao posto de "rei do baião" faz parte da trama, claro, mas importa bem menos que o embate entre Gonzaga-pai e Gonzaga-filho. E se estendermos o olhar para seu outro recente trabalho, À Beira do Caminho, perceberemos que, na verdade, a temática da paternidade é uma espécie de eixo norteador da filmografia de Silveira, cineasta que, apesar de passar longe do brilhantismo, se mostra cada vez mais coerente na construção de seu cinema.