Faz bastante sentido que It: A
Coisa, um dos livros mais celebrados de Stephen King, enfim ganhe uma
adaptação cinematográfica em 2017 (a conhecida versão audiovisual anterior,
protagonizada por Tim Curry, foi na verdade produzida como minissérie para a TV
americana). O imenso sucesso de Stranger
Things no ano passado, tendo como uma de suas matrizes justamente a
literatura de King, parece ter indicado o tom a ser adotado nesse aguardado filme:
foco na dinâmica entre os personagens adolescentes deslocados do mundo adulto e
do mainstream escolar, em seus medos
e angústias e no senso de aventura que os move diante do extraordinário,
recuperando certo espírito oitentista que remete a Conta Comigo (aliás, também inspirado num conto de King) e às
produções da Amblim Entertainment (como E.T.,
Os Goonies e Poltergeist); o horror usado como contraponto trágico a esses
sentimentos, como meio de iniciação brutal na vida adulta.
Dirigido por Andy Muschietti, do
irregular Mama, It utiliza com precisão
esses elementos. O Loosers Club
formado por seus protagonistas é a força principal do filme, espaço de produção
de empatia, humor e alguma dose de drama. Vem daí os melhores momentos de It,
com os garotos e a garota se conhecendo, tirando sarro uns dos outros,
construindo um comovente círculo de proteção mútua contra a brutalidade do
mundo externo.
O horror, por sua vez, é o elo fraco
da narrativa, ou ao menos não é tão forte quanto prometia ser. As aparições de
Pennywise (Bill Skarsgard), ao longo da primeira hora, para cada um dos
protagonistas soam episódicas e forçadas: sem maior organicidade ou lógica,
elas existem simplesmente para que todos eles possam compartilhar, numa
determinada cena, suas respectivas experiências com o palhaço demoníaco. Muschietti
também falha na criação de um clima verdadeiramente macabro, opressivo, quando a
trama pede isso dele. Se visualmente seu filme, inclusive no uso de alguns
efeitos de CGI, se assemelha ao cinema de James Wan, no aspecto anteriormente
citado It passa longe de obter os resultados de um Invocação do Mal, por exemplo. E o
próprio Pennywise parece subaproveitado em sua condição circense, sendo,
durante quase todo o tempo, puramente um monstro, desprovido do senso de humor
cruel que se poderia esperar de tal figura – são poucas as cenas nas quais
Skarsgard deixa vir à tona essa característica.
Mas talvez o que mais incomode seja a falta de atenção
do filme para a dor que atravessa a fictícia cidade de Derry, diante da
tragédia dos sucessivos desaparecimentos de crianças. Há um momento em que um
dos protagonistas observa a sobreposição de cartazes dessas crianças
desaparecidas e comenta que é como se elas fossem sendo esquecidas, substituídas
nas preocupações locais pela vítima mais recente. Trata-se de uma bela
reflexão, no entanto, It acaba assumindo postura
semelhante com seus personagens tidos como menos importantes, já que, com exceção
do irmão de Bill (Lieberher), as vítimas de Pennywise vão se acumulando na
história sem que o espectador saiba qualquer coisa sobre elas ou realmente
lamente seu destino.
It, 2017
Andy Muschietti
Um comentário:
Gostei do elenco! Bill Skarsgård é um ótimo Pennywise e as cenas em que ele aparece são brutais, repletas de sangue, vísceras e membros decepados. O gênero de terror nunca foi um dos meus preferidos, porém devo reconhecer que It A Coisa, foi uma surpresa pra mim, já que apesar dos seus dilemas é uma historia de horror que segue a nova escola, utilizando elementos clássicos. Com protagonistas sólidos e um roteiro diferente. Depois de vê-la você ficara com algo de medo, poderão sentir que alguém os segue ou que algo vai aparecer.
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