Os êxitos consecutivos (tanto nas bilheterias quanto entre a crítica especializada) de Batman - O Cavaleiro das Trevas e A Origem consolidaram Christopher Nolan como um dos cineastas mais influentes da atualidade. A seriedade e o realismo que imprimiu ao universo de um super-herói como o Batman, por exemplo, acabou por tornar-se uma espécie de padrão de qualidade a ser seguido, inclusive credenciando Nolan ao posto de "padrinho" de outros filmes baseados em personagens dos quadrinhos, caso do Superman que Zack Snyder lançará em 2013.
Mas nem tudo são flores e há um preço a se pagar por ser, hoje, Christopher Nolan. Cada novo filme seu é recebido sob um clima de ame-o ou deixe-o; há quem considere o cineasta um novo Stanley Kubrick, há quem o veja como um picareta com pouco, ou nenhum, talento. A acolhida a Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge não fugiu muito a essa regra: enquanto muitos amaram, considerando o filme o encerramento perfeito para a saga do herói nas telas, outros tantos detestaram, resgatando do limbo até mesmo o infame Batman & Robin, de Joel Schumacher, para criticarem o olhar de Nolan para o personagem. A meu ver, um pouco mais de parcimônia não faria mal a ninguém.
De fato, Christopher Nolan não é nenhum gênio, nenhum sucessor de Kubrick. Seus filmes têm problemas crônicos, principalmente no que diz respeito a um excesso de didatismo que pauta suas narrativas - algo que incomoda bastante tanto em A Origem como nesse novo Batman. Trata-se de uma necessidade de explicar tudo o que está acontecendo na tela, seja através de flashbacks ou de discursos artificiais dos personagens, o que não deixa de ser uma forma de subestimar a inteligência do espectador. Em O Cavaleiro das Trevas Ressurge há alguns exemplos nesse sentido: o personagem que revela, oralmente sua verdadeira natureza e todos os passos de seu plano; a câmera que mostra coisas que poderiam ser simplesmente sugeridas; o flashback que explica o que já entendemos.
Mas, aparadas essas arestas, sobra um filme de qualidades inegáveis, quase tão impecável quanto O Cavaleiro das Trevas. O diretor, ao lado de seu irmão e parceiro habitual Jonathan Nolan, consegue, mais uma vez, construir uma narrativa que impressiona pela grandiosidade, mas que jamais deixa de se preocupar com o desenvolvimento de seus personagens. Tomemos como exemplo os antagonistas Batman/Bruce Wayne e Bane: o primeiro continua sendo uma figura complexa, quase esquizofrênica, um homem amargurado e, ao que parece, viciado no vigilantismo que pratica; já o segundo é, no fim das contas, o líder de uma espécie de revolução que põe fim aos privilégios das elites de Gotham e muda substancialmente a configuração social da cidade, o que o torna, por si só, um sujeito admirável (ao mesmo tempo que levanta questões sobre os significados políticos de um personagem como Batman, mantenedor supremo do status quo, bilionário que lida com seus demônios garantindo a permanência do poder do Estado e de seu braço armado, a polícia).
Ou seja, por mais que, enquanto espectadores, não hesitemos em torcer por aquele que nos é apresentado como herói, os irmãos Nolan conseguem fugir de dicotomias excessivas simplórias, imprimindo bem-vindos tons de cinza na composição de seus personagens. Isso é algo que Joel Schumacher, com sua Gotham City carnavalesca, passou longe de fazer; esse é um mérito que ninguém tira de Christopher Nolan.
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