domingo, 6 de maio de 2012


[xingu]

Xingu 
Xingu, 2012
Cao Hamburger


Na última cena ficcional de Xingu, os irmãos Cláudio (João Miguel) e Orlando (Felipe Camargo) Villas-Bôas, em missão de estabelecer contato com indígenas que nunca conheceram o homem branco, finalmente se deparam com um membro desta tribo: todo pintado de preto, ele olha, desafiador, para os protagonistas. Nesse momento, Cao Hamburger consegue sintetizar os objetivos não só de seu filme, mas do próprio trabalho dos Villas-Bôas. Como impôr à civilização a povos como aquele? Como desrespeitar um mundo tão diverso, simplesmente ignorando suas especificidades?
É uma pena, portanto, que o restante do filme não tenha se espelhado nessa passagem de tamanha força e beleza. O grande problema de Xingu reside em sua necessidade de abarcar um longo período em uma narrativa de menos de duas horas. Hamburger prova que O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias não foi um acidente e entrega um trabalho delicado, uma direção de admirável economia dramática mas, ao mesmo tempo, bastante emocional na forma como lida com a entrega de seus atores (especialmente João Miguel). No entanto, o diretor poderia ter optado ou por um filme maior (tanto na escala narrativa quanto na duração mesmo), um épico emocional-ecológico à lá Dança com Lobos, ou simplesmente ter reduzido seu escopo, mantendo-se num recorte cronológico menor, que se resumisse a acompanhar alguns anos da trajetória dos Villas-Bôas em seu contato com os índios. 
Mas Hamburger escolheu um caminho do meio, que mescla um acertadamente delicado olhar sobre os irmãos protagonistas com uma equivocada tentativa de dar conta de contextos políticos diversos (o filme vai dos anos de 1940 aos de 1970) e seus reflexos sobre o trabalho dos Villas-Bôas. Daí fica a sensação de que Xingu não passa de um resumo apressado daquela história toda. 

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