quarta-feira, 17 de novembro de 2010

[machete]

Machete
Machete, 2010
Robert Rodriguez


Me lembro que quando assisti Um Drink no Inferno, meu primeiro contato com o cinema de Robert Rodriguez, fiquei com a impressão de que um filme que se encaminhava para ser muito bom, com personagens e diálogos excelentes, dotado de um humor negro devastador, fora estragado por sua segunda metade exagerada, tosca, desprovida de qualquer sutileza. A impressão exata era de que a primeira parte do filme havia sido dirigida por Quentin Tarantino (na verdade, roteirista da obra), e a segunda, por Rodriguez.
Quem assistiu ao projeto Grindhouse, lançado por essa mesma dupla há 3 anos, deve ter percebido algo parecido: enquanto o segmento de Tarantino, À Prova de Morte, transformava um fiapo de história em um filme memorável, empolgante e engraçado, o segmento de Rodriguez despediçava um bocado de ótimas ideias por conta de opções exageradamente gore, e de um roteiro fraquíssimo. Pois com Machete, filho direto de Grindhouse, fica a certeza: Robert Rodriguez é um "estragador" de boas ideias. Do genial trailer inserido entre À Prova de Morte e Planeta Terror, o diretor texano tira um filme cheio de momentos hilários, que tem um protagonista marcante, mas que poderia ser mais, muito mais. Falta roteiro a Machete. Não estou pedindo que o filme se leve a sério, não é isso (cito aqui, novamente, o exemplo de À Prova de Morte, uma grande brincadeira que é quase uma obra-prima, graças ao talento de Tarantino em construir e conduzir sua trama). A questão é que a piada do "mexicano implacável em busca de vingança" cansa a partir de um certo momento, por mais que Danny Trejo dê um show, e todo o pano de fundo no qual a narrativa se desenvolve - o embate entre imigrantes ilegais de um lado e políticos, traficantes e preconceituosos fanáticos de outro - é frágil demais (ou é tratada com excessivo desleixo por Rodriguez). Além disso, bons atores são desperdiçados em personagens que poderiam ser absolutamente memoráveis (como o senador vivido por Robert De Niro e o traficante interpretado por Steven Seagal). Talvez também tenha faltado direção de qualidade a Machete. Talvez, tenha simplesmente faltado Quentin Tarantino ao filme, ao invés dessa sua versão infinitamente menos talentosa que é Robert Rodriguez.

2 comentários:

Película Criativa disse...

Estou curiosa para assistir Machete. Só acho que não tem como comparar Robert Rodriguez com Quentin Tarantino.

parabéns pelo blog :D

Wallace Andrioli Guedes disse...

Acho que eles estão em níveis distintos, mas acho que a comparação é procedente sim, pois são parceiros de trabalho, que costumam adotar uma proposta cinematográfica bem parecida.