sexta-feira, 21 de agosto de 2009

[se nada mais der certo]

Se Nada Mais Der Certo
Se Nada Mais Der Certo, 2008
José Eduardo Belmonte


É difícil apontar extamente aonde está o frescor renovador desse filme de José Eduardo Belmonte, que o torna tão irresistível. Não é novidade alguma realizar filmes sobre pessoas marginalizadas na sociedade em que vivem e que encontram, umas nas outras, uma forma própria de família. Do clássico Perdidos na Noite ao recente O Lutador, isso já foi mostrado à exaustão pelo cinema norte-americano. Tampouco é novidade a narrativa fragmentada, que lembra um pouco os filmes de Alejandro González Iñarritu (especialmente Amores Brutos e 21 Gramas), já que isso vem sendo explorado também de forma exaustiva, especialmente nos últimos anos. E a própria forma como Belmonte conjuga imagens, fragmentárias, e narração em off, lembrou-me um pouco o trabalho de Rogério Sganzerla em O Bandido da Luz Vermelha, clássico do cinema nacional.
Talvez o que faça Se Nada Mais Der Certo dar tão certo (com o perdão do trocadilho) seja justamente a utilização desses lugares-comuns, dessas supostas referências (é muito provável que o diretor tenha o clássico de Sganzerla como referência mesmo, já quanto aos outros, é pura especulação mesmo), de uma forma tão própria, tão sua, para construir uma narrativa ao mesmo tempo despretensiosa (muito menos pretensiosa, pelo menos, do que os filmes de Iñarritu) e comprometida com um olhar crítico sobre a sociedade brasileira. Talvez o segredo esteja nesse diálogo de Belmonte com outros cinemas sem ser subserviente a eles, sem buscar a cópia barata. Se Nada Mais Der Certo é autoral, do início ao fim (o que faz até com que não seja uma experiência muito fácil num primeiro momento, e que sua narrativa custe um pouco a engrenar - no entanto, quando engrena, fica difícil tirar os olhos da tela).
Mas está, também, e principalmente, na conjugação única e perfeita entre o trio de protagonistas, que criam personagens altamente empáticos, sem que para isso seus defeitos tenham de ser escondidos - eles são mostrados, mas nunca julgados pelo diretor, o que é também um êxito do filme. Se Cauã Reymond acaba com qualquer dúvida de seu talento como ator (alguém ainda se lembra de que durante um bom tempo ele ficou conhecido por interpretar um personagem de Malhação?), e João Miguel compõe na medida exata uma figura bastante diversa daquelas que costuma viver (saindo o nordestino alegre, descontraído, e entrando um homem amargurado, introspectivo), é Caroline Abras quem toma conta de Se Nada Mais Der Certo, toda vez que entra em cena. Sua figura errática, indefinível, agressiva, terna e apaixonante, tudo isso ao mesmo tempo, sintetiza perfeitamente o que é, também, o filme de Belmonte.

3 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Não sou dos maiores fãs de A Concepção, embora o ache um filme interessante, talvez mereça uma revisão. E já vi muita gente elogiando muito esse mais novo trabalho do Belmonte, o que aumenta muito minha expectativa.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Rafael,
A Concepção é daqueles filmes que estão sempre na lista dos que preciso assistir, mas sempre acabo deixando para depois. Mas como Se Nada Mais Der Certo me encantou verdadeiramente, vamos ver se agora finalmente assisto-o.

Mateus Nagime disse...

Poxa, não vi A Concepção ainda, mas tou muito animado pra ver esse filme. Não vi ninguém falar mal dele ainda, acho...