domingo, 9 de agosto de 2009

[curtinhas: no cinema]

Esse é mais um post "recuperando o tempo perdido". Agora com dois filmes vistos no cinema já há certo tempo, e que ainda não haviam recebido a devida atenção aqui no blog.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe
Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009
David Yates


A série Harry Potter parece finalmente ter encontrado um responsável por conduzi-la até seu final, de uma forma respeitosa mas sem medo de ser original. Não acho David Yates o melhor diretor a passar pela franquia (Alfonso Cuarón e seu O Prisioneiro de Azkaban continuam insuperáveis na minha opinião), mas seu trabalho é não menos que admirável: o inglês consegue dar um tom sóbrio, e, nesse sexto filme, verdadeiramente sombrio, à saga, sem perder de vista a inocência que ainda resta aos seus protagonistas, o encanto de viver em um mundo de magia. Em O Enigma do Príncipe, a escuridão predomina, e a sensação de que algo terrível está por acontecer é trabalhada e explorada de forma brilhante por Yates, que acaba criando algumas cenas magníficas (sendo uma sequência, já perto do final do filme, envolvendo Harry Potter e Dumbledore em uma caverna a melhor delas, capaz de rivalizar mesmo com a cena de abertura do filme anterior, também dirigido por Yates).
Não há aqui quase nenhuma sombra do clima alegre e infantil dos filmes de Chris Columbus, e talvez seja essa evolução dos personagens e da história criada por J.K. Rowling que mais mereça admiração. E Yates sabe muito bem conduzir essa mudança de clima, essa intensificação da escuridão. Só me incomoda um pouco em seu trabalho uma certa frieza emocional em momentos que pediriam uma intensidade dramática maior: novamente, assim como em A Ordem da Fênix, há a morte de um personagem de grande importância para a saga, um personagem querido - e, novamente, Yates filma-a de uma maneira seca (mas não tão brutal quanto poderia ser, e como fez, por exemplo, Mike Newell em O Cálice de Fogo ao evidenciar a tragédia da morte de um personagem que era muito menos importante e querido do que os dois que morreram até agora nos filmes de Yates), não resultando em toda a emoção que se poderia esperar. Ah sim, e a ausência de Ralph Fiennes faz falta - seu Voldemort é mesmo um vilão marcante.


Horas de Verão
L'Heure d'été, 2008
Olivier Assayas


Assisti a esse Horas de Verão de uma forma que raramente faço: sabendo nada, ou muito pouco, sobre o filme. Sabia tratar-se de uma obra de Olivier Assayas, de quem já havia assistido ao ótimo Clean. Mas nada mais.
E a experiência foi bastante interessante, até porque Horas de Verão é um filme que quebra alguns pré-julgamentos que podem formar-se a partir de seus primeiros minutos, demorando um pouco para revelar do que realmente trata. Dessa forma, acreditei primeiramente estar vendo a mais um filme sobre uma família reunida para uma ocasião festiva, onde todos os problemas, traumas, rancores, amores, envolvendo aquelas pessoas vêm à tona (podendo aproximar-se aqui tanto de um tom mais hard de um Festa de Família, quanto de um olhar menos pesado e trágico, mas ainda assim sério e sóbrio, de um O Casamento de Rachel). Pois bem, essa minha impressão não sobreviveu sequer aos 30 primeiros minutos de filme: após a saída de cena de determinada personagem, Assayas muda o foco de sua narrativa, e vai, aos poucos, deixando transparecer sobre o que quer falar - algo que fica completamente claro para lá da metade da narrativa, se me recordo bem.
E quando isso acontece, Horas de Verão revela-se mais um belo trabalho desse diretor, um instigante olhar sobre as formas diferentes com que as pessoas lidam com o passado e, principalmente, com os objetos representativos deste. Talvez este seja um julgamente demasiadamente marcado pela minha formação de historiador (talvez o filme não seja realmente sobre isso...), mas me parece que o que Assayas busca primordialmente é refletir sobre como esses objetos representativos de um passado deixado como herança podem, dependendo da forma como são ressignificados, ganhar tanto uma nova vida quanto transfomar-se em coisas mortas, chatas, entediantes. E, nesse sentido, Horas de Verão me parece ser um filme bastante maduro, ainda que não tão bom quanto o último trabalho do diretor.

6 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Ok, esse Harry Potter não chega a ser tão bom quanto o melhor já adaptado: O Prisioneiro de Azkaban. Mas não acho que foi nesse sexto episódio que o tom sombrio de fato passou a fazer parte da franquia, no anterior já havia sentido isso. E esse até que começa bem, mas acho que ele se perde justamente na parte final, aquela sequência da carverna é bastante mal realizada, a meu ver. Fico no aguardo para as duas partes finais, que prometem.

Já Horas de Verão tô louco pra ver, e gosto bastante de Clean.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Concordo contigo, Rafael, quanto ao fato de o tom sombrio já estar no filme anterior (na verdade, acho que está presente desde o filme do Cuarón), mas tenho a impressão que em O Enigma do Príncipe ele é acentuado de uma forma talvez inesperada.
E quanto à cena da caverna, acho maravilhosa, especialmente pela interpretação do Michael Gambon ali. Apesar de achar que a busca pelas tais das horcrux ter ficado mal desenvolvida...

Diego Rodrigues disse...

Eu concordo que Harry Potter destaque mais para o dark nesse aqui. Desde O Prisioneiro de Azkaban, ele estava sendo trabalhado aos pouquinhos. Acho até que foi meio proposital. Este sexto é finalmente o estouro de tudo, agora sim vai começar a luta de verdade. Gostei bastante do longa, apesar de perder um pouco para o do Cuáron.

Bruno disse...

Gostei muito de "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", é o meu preferido da franquia, até agora. Tb adorei a cena que se passa na caverna, envolvendo Harry Potter e Dumbledore. Outro ponto que me agradou foi o destaque dado às relações cotidianas dos personagens, houve um cuidado especial nesse aspecto.

E eu tb achei que ocorreu essa frieza emocional na morte desse personagem importante, mas fiquei com dúvidas se não foi de propósito. Eu não li os livros, então não sei o que vai acontecer, mas como tudo se deu, as coisas que foram ditas antes dessa morte, tudo me leva a crer que esse personagem de fato não morreu. Ou se morreu, sabia antes de morrer que seria ressuscitado, qualquer coisa nesse sentido. Enfim, não sei se me expressei de modo confuso, mas foi essa a minha impressão.

Abraço!

Unknown disse...

Bom, eu detestei esse "Harry Potter e o Enígma do Príncipe", um dos mais fracos (senão o mais fraco) lançado até agora. Com toda a certeza a série está perdendo o fôlego gradativamente (escondendo as imperfeições atrás de um quilômetro de efeitos especiais). Pouca coisa se salva nesse último lançado, pouca coisa mesmo. Não vejo o porquê de tanta euforia por parte de vários amigos cinéfilos, mas, claro, aceito a opinião de todos com muito apreço e respeito.
Abraço!

Anônimo disse...

Concordo totalmente com sua opinião de O Enigma do Príncipe. Neste capítulo, vemos liberdade e criatividade, além de amadurecimento emocional.