A Festa da Menina Morta
A Festa da Menina Morta, 2008
Matheus Nachtergaele
É sob grande influência do cinema feito por um grupo de realizadores nordestinos (Cláudio Assis, Lírio Ferreira, Hilton Lacerda, Sérgio Machado, Marcelo Gomes, Karim Aïnouz) que Matheus Nachtergaele promove sua estreia na direção de longas com esse A Festa da Menina Morta. Falta, entretando, ao estreante, o talento narrativo e a força dramática que estes costumam imprimir a seus filmes: A Festa da Menina Morta é uma obra um tanto irregular, que tem uma excelente premissa que acaba sendo subaproveitada.
Em primeiro lugar, o filme depende excessivamente de seu protagonista, uma figura bizarra, interpretada com brilhantismo por Daniel de Oliveira. O ator está excepcional, naquele que talvez seja seu melhor desempenho desde Cazuza, a ponto de fazer com que um sujeito repugnante como Santinho (histérico, egoísta, egocêntrico) se torne absurdamente fascinante - vê-lo em cena é, ao mesmo tempo, um misto de sofrimento e prazer. No entanto, Nachtergaele parece hipnotizado em demasia pela interpretação de seu protagonista e acaba se esquecendo do resto do filme. Exagero meu, mas, de alguma forma, tudo parece estar pela metade em A Festa da Menina Morta. Algumas cenas são excessivamente gratuitas (confesso que a aparição da personagem de Cássia Kiss continua um enigma para mim), atores reconhecidamente talentosos são desperdiçados em personagens sem nenhuma expressão (além de Kiss, há Dira Paes num papel pequeno demais, sem nenhuma importância, e Paulo José fazendo sabe-se lá o quê), e questões que pareciam importantes para o desenrolar da história são simplesmente esquecidas a partir de certo momento - o exemplo mais significativo nesse sentido diz respeito ao personagem de Juliano Cazarré, portador de um elemento de conflito no filme, capaz de implodir toda aquela situação, mas que, sem nenhuma explicação, parece simplesmente deixar de lado suas angústias e inquietações (o que, a meu ver, é uma falha de Nachtergaele, que parece não saber como conduzir aquele conflito iminente, e decide por abandoná-lo).
Talvez possa-se argumentar uma opção do diretor por deixar coisas em aberto, por evitar respostas prontas, visões acabadas sobre a temática abordada - o que até faria um certo sentido, já que, por mais que seu olhar sobre a religiosidade daquelas pessoas seja altamente crítico, em determinados momentos, especialmente quando filma de maneira belíssima a festa da menina morta propriamente dita, Nachtergaele demonstra uma certa admiração pela força daquela crença, abrindo espaço para um bem-vinda dubiedade no filme. No entanto, me parece que há um certo limite para essa opção: o que falta a A Festa da Menina Morta é um pouco mais de coerência e cuidado na construção da narrativa. A Matheus Nachtergaele, o diretor, talvez falte experiência mesmo.
7 comentários:
Acho que o filme peca pelo excesso em tudo (assim como a estreia do Selton Mello na direção): nas atuações, na auto-importancia, no jeito Claudio-Assis-de-filmar. Pra mim, o grande momento do filme nao tem nada a ver com a trama, que é a belissima tomada que pega os rapazes dançando. Faltou mais daquilo no filme. Mas o Matheus leva jeito, sim, senhor.
Aproveitando o coment, acabei nao falando sobre seus filmes vistos em maio. Suas escolhas mensais sao otimas (alguns ali infelizmente nao vi). Eu acho O Gosto da Cereja tao sensacional e um dos maiores filmes dos anos 90 (junto com outros Kiarostami, alias) que suas 4 estrelas quase me matam! O mesmo vale pro Cabra Marcado, e se nao conhece Coutinho, corre, pq o q vem depois é mais impressionante.
Abços!
Pois é, aquela cena destoa mesmo, e achei bem interessante (apesar de que, quando ela surgiu, fiquei meio sem saber o que pensar). Por outro lado, já gosto bem mais do filme do Selton, não acho que haja excesso lá.
Sobre os filmes do mês, fica calmo Hélio, gostei bastante do Gosto de Cereja... rs.
Parece que trata de temas muito complicados para um diretor que não tem uma maior experiência, mas estou curioso para ver o que o Nachtergaele realizou.
Eu temia que este fosse um filme irregular, mas acho que isso acaba sendo esperado, afinal é a primeira experiência do Matheus Nachtergaele como diretor.
To curioso para vê-lo. Aparenta ter bastante personalidade e intensidade, do jeito que gosto.
Ciao!
Não vi o filme ainda, mas quanto ao problema com o áudio. Creio que é mesmo do filme e não coisa da tua cabeça, acredite. O cinema brasileiro tem que melhorar e muito o som.
É, esse é outro que devo demorar bastante para conferir!
Postar um comentário