Com A Troca, Clint Eastwood se aproximou bastante de um cinema norte-americano "à moda antiga", semelhante a grandes dramas da Hollywood de outrora. Há também ecos de um cinema noir e algumas semelhanças com alguns dos pesados dramas comandados pelo diretor recentemente, como Sobre Meninos e Lobos (principalmente na segunda parte da narrativa, quando entra na trama a investigação policial acerca de um possível serial killer, assassino de crianças).
No entanto, esse excesso de referências acaba atrapalhando um pouco a empreitada de Eastwood, transformando A Troca em uma obra excessivamente irregular. É especialmente como drama de uma mãe em busca do filho desaparecido que o filme comete alguns pecados. Angelina Jolie está perfeita no papel de Christine Collins, compondo sua personagem no tom exato, entre o exagero das interpretações das atrizes deste tipo de drama à antiga e a sutileza de determinadas cenas, o que acaba tornando sua obstinação tristemente real. Assim como Meryl Streep (As Pontes de Madison) e Hilary Swank (Menina de Ouro), Jolie rende bastante nas mãos de Eastwood: o próprio trabalho do diretor acaba ofuscado pelo desempenho de sua protagonista, verdadeira dona do filme. Entretanto, chega a ser irritante a condução da história de Collins por Eastwood e pelo roteirista J. Michael Straczynski, com clichê atrás de clichê (a cena do eletrochoque é um ótimo exemplo disso). O mesmo vale para o excesso de coadjuvantes estereotipados: o chefe de polícia malvado e corrupto, o médico cruel, o pastor bondoso e corajoso (vivido por um deslocado John Malkovich), o psicopata doentio e amalucado que não consegue conter seus risos nervosos etc.
Por outro lado, Eastwood permeia a narrativa com cenas muito boas, nos lembrando de que estamos diante de uma obra sua: todos os momentos envolvendo os crimes do serial killer são tensos e envolventes na medida certa e há a excelente cena de uma execução na forca, dona de um tom incômodo, amargo, bastante apropriado e coerente com o cinema do diretor. Além de muitos momentos protagonizados por Jolie, principalmente um, próximo ao final, envolvendo o depoimento de um menino desaparecido e encontrado pela polícia. Momento, aliás, perfeito para o encerramento do filme, com o olhar emocionado da protagonista, e que elevaria a qualidade de A Troca. No entanto, o diretor prefere incluir uma cena posterior, desnecessária, na qual o que não precisava ser dito é dito. E que sintetiza bem a irregularidade deste filme menor de Eastwood.
Changeling, 2008
Clint Eastwood
6 comentários:
Acho que o Clint pisou na bola legal com esse filmes. Tem mesmo cara de coisa antiga, muito bem trabalhada pela ótima direção de arte, mas acho que o filme cai no caricato, no maniqueísmo muito facilmente. O final, mais longo do que preciso, ainda traz aquela liçãozinha de moral tão forçada. Ok, a Jolie está ótima no filme, mas mesmo assim não sustenta o filme.
Tenho que conferir o resultado então, já faz algum tempo que estou pra ver A Troca. Vou te confessar que não vanglorizo o Clint Eastwood como todo mundo, acho ele apenas um diretor competente. E só.
Mas vamos ver, quero ver Gran Torino também.
Também quero muito ver Gran Torino, Diego. Mas, ao contrário de você, admiro profundamente o cinema do Eastwood, que já fez pelo menos quatro obras-primas: Os Imperdoáveis (seu melhor filme e um dos filmes da minha vida), Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro e Cartas de Iwo Jima. Vez ou outra ele escorrega, como nesse A Troca e no recente A Conquista da Honra.
Eu gostei de "A Troca", dentro do que foi possível é claro. Acho que os filmes de Eastwood pecam pela falta de ousadia, ou seja, tudo que compõe as películas dele é regido unicamente por uma palavra: técnica. A direção do filme por exemplo, é acadêmica e trivial, nem ótima nem péssima. Apenas normal.
E isso me irrita. Prefiro, na maioria das vezes, odiar um filme do que classificá-lo como corretinho.
Ah, e a atuação da Angelina segue o mesmo padrão (um pecado terem preterido Sally Hawkins por conta dela).
Um abraço, Wallace!
Hum, gosto do Clint e mesmo não vendo muitos comentários animadores sobre "A Troca", é um filme que certamente assistirei. Ah, e finalmente vi "O Lutador". Gostei bastante, talvez não tanto quanto vc (não chego a considerá-lo uma obra-prima), mas sem dúvidas é muito bom. A direção simples do Aronofsky e a atuação espetacular do Mickey Rourke realmente tornam o filme poderoso. Deve escrever também sobre ele em breve. Abraço!
Eastwood já fez melhor...fato! Mas este "A Troca" me conquistou pelos elementos existentes que sempre me conquistam no cinema deste cineasta brilhante. O filme mecheu comigo e adorei todo o arranjo. É falho, mas vale a pena.
Daria 4 estrelas.
Ciao!
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