sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

[o leitor]

O Leitor
The Reader, 2008
Stephen Daldry


É impressionante como irregularidade pode ser um fator capaz de praticamente arruinar um filme. Em dois terços de sua narrativa, O Leitor é um filme verdadeiramente excepcional. Na primeira parte, quando se desenrola o envolvimento dos personagens de David Kross (ótima revelação) e Kate Winslet, Stephen Daldry parece nos lembrar a todo momento que estamos diante de um cineasta de grande sensibilidade, responsável pelo belíssimo As Horas. Winslet surge magnífica, discreta na medida certa, dosando sua personagem com o mistério necessário para seu desenvolvimento posterior, e criando uma figura fascinante, ao mesmo tempo simples e irresistível, ao mesmo tempo que possui uma excelente química com Kross, com quem divide belas cenas de intimidade. Cenas, aliás, filmadas com delicadeza por Daldry, que conduz o roteiro de David Hare com talento, mantendo-nos presos e interessados pela trama e por seu par de protagonistas.
Em sua segunda parte, O Leitor consegue crescer ainda mais. Kross se sai bem sem a presença magnética de Winslet, que, quando finalmente ressurge, nos lembra novamente do tamanho de seu talento, revelando a complexidade de sua personagem somente para torná-la ainda mais fascinante. Suas cenas de julgamente são absurdamente poderosas, graças, principalmente, à atriz, capaz de transmitir toda a angústia e ignorância daquela mulher simplesmente com seus expressivos olhares. Além disso, Daldry e Hare elevam o filme a um outro patamar, ao inserir em sua narrativa a polêmica e delicada questão da expiação da culpa do Holocausto pelos alemães. O Leitor consegue contribuir significantemente nessa discussão, complexificando questões que frequentemente são tratadas com um simplismo absurdo. Até aqui, parecia estar diante do melhor trabalho da curta carreira de Daldry.
No entanto, quando entra em sua reta final, o filme cai imensamente de qualidade. Ralph Fiennes assume de vez o lugar de Kross, e não tem muito o que fazer com seu personagem, e Kate Winslet se resume a aparecer envelhecida, sem conseguir acrescentar muito à figura de Hannah Schmitz (ainda que continue aqui sendo a melhor coisa do filme). O Leitor apela, então, inexplicavelmente, para momentos melodramáticos, que em nada combinam com o que fora mostrado até então. Além do desnecessário reencontro entre os protagonistas, há um diálogo entre Fiennes e Lena Olin que chega a beirar o constrangedor, tamanho o artificialismo de tal cena (ainda que algo que a personagem de Olin diz em determinado momento, acerca da busca por catarse, seja profundamente válido para a proposta do filme e para as discussões acerca do tema por ele tratado). Fica a impressão de existem aqui dois filmes dentro de um só. De um lado, o melhor filme de Stephen Daldry. De outro, o pior.

7 comentários:

Anônimo disse...

Também encontrei certa irregularidade no ato final do filme, que por sua vez se torna comovente graças ao elenco. Mas o filme em sí é belo e merece reconhecimento. É um retrato da vergonha soberbo.

4 ESTRELAS.

Ciao!

Unknown disse...

É um filme que me surpreendeu negativamente. Fiquei enfeitiçado pelo ato inical do filme, mas o decorrer da história perdeu o ritmo e tudo foi ficando superficial demais. É claro que David Hare acertou ao evitar julgo, porque eu mesmo não teria coragem de julgar o que a Hannah fez, para mal ou para bem. A ideia de redimí-la no fim, pelo contrário, foi péssima.
Nota; 7,5
Abraço!
E, comparado a "Billy Elliot" e "as Horas", pobe "The Reader"...

Unknown disse...

* pobre ;)

papi disse...

é fato, o filme perde muito em qualidade no ato final. infelizmente.

o trabalho da winslet tem q ser celebrado mesmo, o personagem dela é um tanto complicado, e ela conseguiu se destacar.

jamais deveria ser indicado ao oscar... poderia rolar wall-e, o lutador... até vicky cristina barcelona no lugar dele. faz 1 mês q eu assisti e só não esqueci completamente do filme devido a winslet.

aBraço

Wallace Andrioli Guedes disse...

Shaun, O Leitor foi meio que acusado de "roubar" a vaga de O Cavaleiro das Trevas como melhor filme no Oscar. Concordo que o filme de Nolan merecia essa indicação, mas mais impressionante ainda é o fato de esse filme ter ocupado um lugar que poderia ser de O Lutador ...

Diego Rodrigues disse...

É, 3 estrelas é suficiente para o filme. Mesmo assim, é um filme bom, principalmente pela coragem em mostrar a vergonha e a humilhação.

Apesar disso, não gostei de David Kross.

Rafael Carvalho disse...

Não acho que a metade final do filme seja irregular, só o tom que muda bastante e é mais trágico. Mesmo assim, a primeira parte marca mais no filme.

Uma pena que a questão da culpa do povo alemão, representada pela culpa que David carrega, não seja tão bem aproveitada pelo roteiro que podia se aprofundar mais no assunto.

Agora, eu gostei muito da Lena Olin no filme, a conversa dela com o Fiennes arredonda a história toda e ela é ótima.