[habemus papam]
Habemus Papam, 2011
Nanni Moretti
Nanni Moretti é quase um "José Saramago com uma câmera" em Habemus Papam, ao colocar a Igreja Católica em uma situação tão extrema que beira o inimaginável (mas que poderia muito bem ocorrer) dentro de uma narrativa sarcástica.
O filme tem uma premissa promissora e poderia ser uma pequena obra-prima, mas Moretti acaba pecando por sua falta de foco e incapacidade de concluir determinados eixos da trama. Acompanhar um Papa bloqueado psicologicamente tendo de discutir seus traumas e desejos com um psicanalista ateu é quase um sonho de consumo mas o roteiro de Habemus Papam opta por, ao invés de investir nesse caminho, jogar o personagem de Michel Piccoli para fora do Vaticano, levando-o a conhecer alguns aspectos da vida cotidiana e, assim, a refletir sobre sua vida. Essa escolha também não é de todo má, já que Piccoli entrega um desempenho comovente como o indeciso Papa, mas daí o irritante personagem vivido pelo próprio Moretti perde um pouco sua razão de ser, por mais que alguns de seus momentos no Vaticano sejam ótimos. Essa tendência por abandonar certos elementos da narrativa é recorrente no filme.
De qualquer forma, o diretor e roteirista merece os créditos pelo maravilhoso trabalho de humanização de figuras que costumamos enxergar com tamanho distanciamento. Encontrar não só o Sumo Pontífice como um sujeito cheio de melancolia e solidão mas também os outros bispos da Igreja como figuras frágeis, quase inocentes, em um mundo no qual elas não parecem mais se encaixar, é um prazer para o espectador. É na se preocupação maior com seus personagens do que com a mera crítica a uma instituição já tão criticada que se encontra o maior acerto de Habemus Papam. Talvez por isso sua sequência final, apesar de forte e corajosa, soe um pouco destoante do resto do filme. Moretti tem tanto êxito na humanização de seus personagens que, no fim, passamos a desejar um final feliz para eles.