
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Avatar

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Esse aqui caiu um pouco nessa revisão. Quando assisti A Queda pela primeira vez, estava no início da graduação em História, e me lembro de ter ficado impressionado com o que Oliver Hirschbiegel fez, mas havia achado o filme um tanto cansativo, e as cenas que não tinham o Hitler de Bruno Ganz desnecessárias.
Hoje, entendo que o filme, ao contrário do que quis vender o péssimo subtítulo brasileiro, é sobre a derrubada de uma visão de mundo que se entranhou em uma sociedade, e que foi devastada, desde sua "cabeça" até o mais humilde alemão que acreditou e seguiu os ideais do III Reich. Nesse sentido, A Queda é mesmo admirável, mas seu formato me pareceu, agora, excessivamente tradicional, mesmo didático.
O que permanece intacto é o brilhantismo da interpretação de Bruno Ganz. Sua presença em cena é devastadora, seu Hitler humanizado é, por isso mesmo, ainda mais assustador e monstruoso. Provavelmente, qualquer outra interpretação do Führer pelo cinema, antes ou depois deste filme, soará como rasa, como mero estereótipo.
Apocalypse Now
Apocalypse Now, 1979
Francis Ford Coppola
Trata-se aqui de uma velha obsessão. Pelo fato de minha cinefilia ter se iniciado realmente por volta do início dos anos 2000, só havia tido a oportunidade de assistir a nova versão de Apocalypse Now, relançada por Francis Ford Coppola em 2001.
Finalmente assistido o filme como lançado em 1979, o veredicto: são duas experiências muito diferentes. No fim das contas, o Redux é melhor, é mais longo, mais detalhado, tem Marlon Brando por mais tempo em cena, e dá um tom de "jornada infernal que nunca termina" à trajetória de Willard e seus comandados. Mas o "original" é também impactante ao seu modo. A montagem aparentemente apressada, dá um ritmo acelerado ao filme, que faz com que suas 2h30 de duração passem voando, e acaba aumentando o caráter alucinógeno e alucinado de sua narrativa. Acelerada, esta parece ainda mais insuportável. Como disse o próprio Coppola, seu filme não é sobre o Vietnã, ele é o próprio Vietnã. De maneiras distintas, as duas versões de Apocalypse Now tornaram-se essa afirmativa assustadoramente verdadeira.

Declarei há alguns dias no twitter minha frustração com os filmes brasileiros lançados esse ano, e, de uma forma geral, com o cinema brasileiro contemporâneo. À exceção de Se Nada Mais Der Certo, não foi lançado nada de realmente memorável, tendo a safra de 2009 sido composta de alguns bons filmes e algumas outras bombas.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Aproveitando o lançamento do novo filme de Almodóvar nos cinemas, reproduzo aqui o texto que escrevi na ocasião em que assisti-o, no Festival do Rio desse ano. Reprodução com algumas pequenas modificações, já que, de lá para cá, Abraços Partidos cresceu em minha memória.

Juro que esperava de Abraços Partidos o oposto do que ele realmente é. Havia imaginado um filme ultra-pretensioso, que investisse em um excesso de metalinguagem (por ter o próprio mundo do cinema como um de seus temas centrais), possuindo uma narrativa de difícil apreensão – o que, imaginei, talvez explicasse a recepção morna ao filme de Almodóvar. Pois o que vi foi justamente um trabalho extremamente simples, uma mistura de suspense ao estilo Brian De Palma (em alguns momentos é quase impossível não lembrar-se de Dublê de Corpo e Vestida para Matar) com algumas pitadas de comédia almodovariana, onde nada é difícil de se compreender, havendo até mesmo um excesso de clareza narrativa. E confesso que, nesse sentido, gostei do que vi. Abraços Partidos acabou sendo uma boa surpresa. Entretanto, o filme tem lá seus problemas, sendo a irregularidade o maior deles: se em seu início, com suas primeiras idas e vindas no tempo, tudo funciona maravilhosamente bem, lá pelo meio da história as coisas se perdem um pouco, e a resolução do triângulo amoroso apresentada por Almodóvar não deixa de ser um tanto decepcionante. Da mesma forma, tudo envolvendo o personagem Ray-X é tratado com pouco cuidado, e algumas revelações já próximas ao epílogo, feitas por Blanca Portillo, soam demasiadamente didáticas, forçadas, e mesmo melodramáticas (no caso da última delas, a seu filho). Apesar de ser um admirador do cinema de Almodóvar especialmente quando este assume um tom mais sério, a partir de Carne Trêmula (chegando a seu melhor trabalho em Fale com Ela), curiosamente, achei que nesse Abraços Partidos os grandes momentos ficam por conta do lado cômico do diretor – é o velho "jovem Almodóvar" dando sinais de vida, e lembrando-nos do quanto ele ainda sabe arrancar risos da platéia.
P.S.: É impressionante como, a cada dia que passa, Penélope Cruz não só evolui como atriz (especialmente quando atua em espanhol) como se torna mais e mais linda.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Vincere, 2009
Marco Bellocchio
Talvez os objetivos do veterano diretor Marco Bellocchio com Vencer possam ser resumidos em apenas uma cena de seu longa, ocorrida logo em seus primeiros momentos: Benito Mussolini e Ida Dalser transam; ela, enlouquecida por aquele homem enigmático, forte, decidido, se entrega completamente, declarando, apaixonadamente, que o ama; ele, penetra-a com força, impassível, enquanto olha triunfante para a frente – um olhar que demonstra invencibilidade, poder e, acima de tudo, monstruosidade. No fim das contas, para além da trágica história da mulher que amou loucamente Mussolini e foi depois abandonada por ele, Vencer é sobre essa Itália que também se entregou àquele homem, encantada com suas promessas e, acima de tudo, com seu poder de decisão e sua força de vontade, e que acabou violentada, traída, abandonada.
Disse talvez, lá no início, porque, por mais que essa interpretação me pareça acertada, é difícil não reconhecer que muito do êxito do filme está na figura de Ida Dalser, e na tragédia que foi sua vida – ou seja, na história daquela mulher, mais do que na História política de um país. E tanto Bellochio quanto Giovanna Mezzogiorno merecem ser exaltados aqui. O diretor, por construir uma narrativa poderosa, com um ritmo frenético que lembra em muito tragédias operísticas em sua primeira metade, e com um clima melancólico, carregado com belas imagens na segunda parte (a sequência do Natal, por exemplo, é de uma beleza gigantesca). A atriz, por conseguir transformar uma mulher que é, no fim das contas, uma fascista, alguém que compartilha quase que completamente dos ideais de Mussolini (que, aliás, é interpretado por um Filippo Timi que consegue superar a pouca semelhança física com o ditador, ao menos em um primeiro olhar, encarnando-o com uma intensidade impressionante, reproduzindo com perfeição seu jeito de se portar, seus olhares e pequenos gestos e fazendo com que, o que é o mais importante, compreendamos o fascínio exercido por aquele homem sobre os que o cercavam), em uma figura emocionante, com a qual é difícil não se identificar. Ao mesmo tempo mulher e alegoria de um país. Em ambos os casos, vítima do mesmo homem. Mais comovente, impossível.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009










quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Cobrar originalidade de um gênero como comédia romântica pode ser um esforço em vão. E festejar a suposta originalidade e frescor de um de seus exemplares pode ser uma experiência enganosa. É o caso desse elogiado (500) Dias com Ela, que realmente tem algumas sacadas muito boas, faz algumas brincadeiras com a linguagem cinematográfica que geram bons momentos, mas que é, em geral, apenas mais do mesmo. Juro que fui assistir ao filme aberto à possibilidade de apreciá-lo. Na verdade, esperava gostar muito dele, especialmente por motivos pessoais. Aliás, qualquer um consegue se identificar com aqueles personagens, com o protagonista apaixonado (vivido pelo excelente Joseph Gordon-Levitt, de longe a melhor coisa do longa, e que realmente é a cara de Heath Ledger) que se perde diante de expectativas amorosas não correspondidas, que sofre com seus próprios devaneios em torno da correspondência ou não de seu amor. Quem nunca sofreu por esse maldito sentimento? No entanto, o grande problema do filme de Marc Webb é ficar, digamos, em cima do muro. Por um lado, ele tenta ser "esperto", realizar as tais brincadeiras que, em alguns casos, são realmente inteligentes (a sequência musical pós-primeira noite do casal é um achado, e a sequência da oposição "expectativa-realidade" fez-me pensar, por um breve momento, estar diante de uma verdadeira novidade), mas em outros, nem tanto (o trocadilho final, por exemplo, é constrangedor). Ao mesmo tempo, Webb não consegue romper com lugares-comuns das comédias românticas, e é aqui que seu filme afunda. Assim, tem-se os amigos abobalhados, as músicas simpáticas como trilha sonora e um final profundamente equivocado - ou Webb e seus roteiristas levavam o martírio do protagonista até o fim, ou apelavam para a óbvia reconciliação, mas jamais deveriam ter caminhado para o artificialismo daquela sequência final. Em seu epílogo, (500) Dias com Ela se perde definitivamente, e confirma, em sua ânsia de ser uma comédia romântica diferente, "original", o quanto é banal e igual a tantas outras.