sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


[tetro]

Tetro
Tetro, 2009
Francis Ford Coppola


Por mais da metade de Tetro, acreditei estar diante de uma nova obra-prima de Francis Ford Coppola. O retorno do cineasta que já foi o mais poderoso de Hollywood a uma veia mais independente, condizente com o início de sua carreira, produz um filme pulsante, fotografado num belíssimo preto e branco, e dotado de uma jovialidade impressionante. Vincent Gallo convence na composição do enigmático protagonista, e o jovem ator que interpreta seu irmão, Alden Ehrenreich (que se parece muito com Emile Hirsch), é muito bom. A atmosfera de Buenos Aires dá vida a um Coppola rejuvenescido, apaixonado por seu cinema, capaz de comover no pequeno, no drama íntimo de uma família, daqueles personagens vivendo com suas memórias no bairro de La Boca.
Por tudo isso, é mesmo uma pena que a partir de certo momento de sua narrativa o filme caia tanto de qualidade. Após a entrada na trama da peça "escrita" por Bennie (Ehrenreich) e a participação desta num festival de teatro, Tetro passa a pecar pelo exagero dramático, por cenas que soam um tanto artificiais (todos os momentos envolvendo a personagem de Carmen Maura são muito ruins), que culminam com a revelação final que, se combina com o tom trágico-operístico proposto por Coppola, no momento em que acontece acaba tornando tudo ainda mais fake. Ainda assim, é muito bom ver esse grande mestre do cinema de volta à ativa, dando mostras de ainda ser um gênio.

4 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho um filme incrível, tão belo e tão real. O charme da fotografia e p&b torna ainda mais supremo. Não esperava que fosse me identificar tanto com este trabalho de Coppola.

abraço

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Eu gostei MUITO de "Tetro", e na minha cabeça, parece-me, se não a melhor, uma das 5 melhores obras de 2010. Concordo com você quando diz que até a metade "Tetro" é um primor. E depois descamba. No meu ponto de vista, o problema do filme começa um pouco depois do início da peça. Aquela viagem deixa a trama um pouco estranha, e, para mim, a cena da revelação da paternidade é o ápice do "meu Deus, o que aconteceu com esse filme?".

O final, no entanto, consegue não ser estragado pela montagem, que acaba salvando o término.

De fato, você achou bem fake as cenas com a Carmen Maura? Pô, eu achei tão justificado dramaticamente! Porque a personagem dela meio que precisa disso. No final, quando ela perda pra cortar a cena, é realmente isso que você apontou, mas nos outros momentos achei bem em par com a personagem.

Texto breve e objetivo. Muito bom.

Abraço

Wallace Andrioli Guedes disse...

Pois é, Luiz, para falar a verdade, eu não consigo enxergar motivo para a existência da personagem da Carmen Maura.

Rafael Carvalho disse...

Exato, Wallace. O início do filme é muito bom, dá ares de grande retorno. E é muito bom ver Maribel Verdú sendo dirigida por Coppola. Mas o final é mesmo arrastado e muito exclicativo. De qualquer forma, é uma renovação para um cineasta já consagrado. O tipo de risco que faz muito bem a uma carreira consolidada.