sexta-feira, 9 de junho de 2017

6º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba: Um Sonho Tranquilo



Um Sonho Tranquilo, de Zhan Lu, trata com imenso carinho seu quarteto de protagonistas. Esses jovens (três rapazes e uma moça) loosers trafegam por um bairro periférico de Seul, na Coreia do Sul, tendo seus sonhos, frustrações e algumas marcas do passado registradas com delicadeza e lirismo pelo diretor. Ela (interpretada por Ye-ri Han), imigrante chinesa, pena para cuidar do pai paralisado por uma doença, enquanto administra um pequeno bar frequentado pelos amigos; eles (Ik-joon Yang, Jung-bum Park e Jong-bin Yun), são apaixonados pela garota e vivem seus próprios dramas (um é epiléptico, outro sofre de transtorno bipolar e, norte-coreano, é considerado desertor em seu país, enquanto o terceiro foi criado em um orfanato). Juntos, eles formam uma adorável família, que, apesar de forjada em meio a provações, é movida por fortes doses de inocência.

É interessante notar como Zhan Lu insere no filme referências ao cinema, arte do sonho por excelência. A começar pelo trio de atores, todos também cineastas, passando pelo hábito da protagonista feminina de frequentar as sessões gratuitas do Arquivo de Cinema Coreano, chegando à maneira como certas cenas e situações da narrativa são construídas remetendo à encenação cinematográfica. Os próprios personagens falam disso mais de uma vez ao longo de Um Sonho Tranquilo: há diálogos sobre o desejo de alguns deles de se tornarem atores e há ao menos um momento em que determinado acontecimento é percebido pelo quarteto como semelhante a uma cena de filme.

Mas é mesmo na dimensão onírica que Um Sonho Tranquilo escancara essa relação metalinguística, na capacidade, talvez única, do cinema de registrar sonhos e de se constituir também como sonho. Sonhar é um ato fundamental, existencial, para os protagonistas, dada a realidade agridoce da qual são parte. Zhan Lu constrói seu filme como uma mistura discreta de sonho e vigília: há lacunas, ações que parecem não se completar, personagens que desaparecem ou aparecem subitamente e, sobretudo, a felicidade possível nascida de uma relação entre figuras marginais, próprias do onírico; mas há também a dureza e as impossibilidades que a vida desperta traz. 


Um Sonho Tranquilo 
Chun-mong, 2016
Zhan Lu

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