Temporada de premiações estranha essa. Já em meados do ano passado, quando pouca coisa "oscarizável" havia sido exibida, Argo, de Ben Affleck, já despontava como um possível candidato forte ao maior prêmio do cinema americano. O filme estreou, colheu elogios por onde passou, mas, quando os prêmios da crítica começarem a ser anunciados, em dezembro, dois outros contendores surgiram de maneira avassaladora na disputa: Lincoln, de Steven Spielberg, e A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow. Parecia que as categorias principais do Oscar 2013 ficariam entre eles.
Parecia. Porque aí teve início uma polêmica estúpida em torno do longa de Bigelow, acusado, por alguns imbecis que não entenderam nada do filme, de valorizar a tortura de prisioneiros como método investigativo, e seu favoritismo sumiu. E, quando foram anunciados os indicados ao Oscar, em meados de janeiro, a diretora de Guerra ao Terror acabou esquecida, atingida por esses ataques injustos. No entanto, a maior surpresa foi a ausência de Ben Affleck entre os melhores diretores. E como Lincoln obteve 12 indicações, sobrepujando todos os outros concorrentes, parecia que esse seria o ano de Steven Spielberg, mais uma vez.
Parecia. Porque bastou começarem os prêmios dos sindicatos, tidos como as verdadeiras prévias para o Oscar, para Argo voltar ao topo do favoritismo. O filme de Affleck simplesmente fez a limpa: venceu melhor elenco no SAG, melhor diretor no DGA, melhor roteiro adaptado no WGA, melhor produção no PGA - sem contar as vitórias no Globo de Ouro e no BAFTA. Com esse histórico, é muito provável que Argo seja eleito a melhor produção de 2012, mesmo com a ausência de seu diretor em sua respectiva categoria (o que não acontece desde o Oscar 1990, quando Conduzindo Miss Daisy levou melhor filme sem Bruce Beresford ser indicato entre os diretores).
Mas o que acho disso tudo? Gosto de Argo. Gosto bastante, até. Mas Lincoln e A Hora Mais Escura são, de fato, os melhores filmes dessa disputa. O primeiro é um delírio fordiano de Spielberg brilhantemente realizado, uma obra clássica que consegue a proeza de se construir num constante anti-clímax, ao mesmo tempo que apresenta um protagonista mítico, etéreo, e ainda assim estranhamente humano (interpretado por um magnífico Daniel Day-Lewis). Já o segundo é uma desconfortável mirada no espelho da sociedade americana contemporânea, um filme sobre a obsessão que definiu aquele país (e toda uma geração) na última década.
Torcerei por Lincoln no próximo domingo, já que as chances de A Hora Mais Escura são diminutas. Mas às vezes me lembro que, há dois anos, um sujeito chamado Tom Hooper lançou um drama de época quadrado, bonitinho e bobinho chamado O Discurso do Rei e acabou vencendo as categorias principais do Oscar; e me lembro que há um outro filme de Hooper na disputa esse ano, o insuporável Os Miseráveis; e daí me alivio de saber que, ao menos, o favorito é o ótimo Argo, e não esse musical empolado desse diretor picareta. Portanto, se Ben Affleck subir ao palco do Dolby Theater no domingo, ao lado de George Clooney e Grant Heslov, para receber a estatueta de melhor filme, não reclamarei.
Os indicados ao Oscar de melhor filme:
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