Cresci, junto a toda uma geração, sob a sombra dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001. Uma vida foi construída entre os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono e a captura de Osama Bin Laden, quase dez anos mais tarde, mas as imagens daquela fatídica manhã do início do século jamais me abandonaram.
A Hora Mais Escura, nova porrada em forma de filme da diretora Kathryn Bigelow, é sobre esse mundo que conviveu, durante uma década, com a presença meio fantasmagórica de Bin Laden e com a lembrança imagética de suas ações, esse mundo que mudou, de alguma forma, em 11 de setembro de 2001. Trata-se, portanto de uma obra representativa de uma época, de uma geração. Maya, a protagonista, interpretada com intensidade admirável por Jessica Chastain, é também uma vítima e um produto desse mundo. Recrutada pela CIA logo após ter terminado o Ensino Médio, a jovem agente abriu mão de qualquer vida social, privacidade e liberdade para se dedicar a uma primeira (e ingrata) missão: encontrar Bin Laden. Os riscos constantes, o stress e a pressão que envolvem essa busca consomem a personagem ao longo do filme de Bigelow - ao final, sentimos, enquanto espectadores, a exaustão de Maya e nos comovemos com sua catarse silenciosa.
Se grande parte da força de A Hora Mais Escura está no que sua história representa para o nosso tempo, cabe às mãos talentosas da diretora tirar daí um grande filme, o que ela consegue sem maiores problemas. Com o olhar depurado de quem já fez uma obra memorável sobre o cotidiano da chamada "guerra contra o terror", Bigelow não tem medo de encarar o lado feio de um conflito como esse, apresentando, sem verbalizar qualquer julgamento, a tortura como instrumento utilizado para a caça aos membros da Al Qaeda. Não, tal prática não é glorificada pelo filme como apontaram os mais afoitos - para a diretora, não há nada de bonito em torturar um ser humano -, mas A Hora Mais Escura rompe com a hipocrisia do politicamente correto ao mostrar que sim, as informações extraídas de prisioneiros sob tortura foram fundamentais na descoberta do paradeiro do terrorista mais procurado do mundo.
A sequência da invasão da fortaleza de Bin Laden, filmada por Bigelow num crescendo de tensão que beira o insuportável e com riqueza de detalhes impressionante, é a cereja nesse bolo amargo.
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