Ainda que ache O Planeta dos Macacos (o clássico, com Charlton Heston, Kim
Hunter e a Estátua da Liberdade) um bom filme, não consigo enxergar nele a
obra-prima cultuada por tanta gente – talvez a obra de Franklin J. Schaffner
tenha simplesmente envelhecido mal, como, aliás, outros trabalhos desse diretor
que nunca me encantou (Patton e Papillon, por exemplo). Além
disso, nunca me dei ao trabalho de assistir suas continuações, e a refilmagem
comandada por Tim Burton e protagonizada por um insosso Mark Wahlberg é bem meia-boca
mesmo (só o visual dark e o vilão de Tim Roth valem a pena).
Por tudo isso, esse aparentemente desnecessário Planeta dos Macacos: A Origem foi, para mim, uma agradável surpresa.
Independentemente de como ele se encaixa
na cinessérie – há referências ao primeiro filme ao longo de sua narrativa,
tanto na retomada de alguns diálogos ("Take your stinking paws off me you
damn dirty ape!", que é, aliás, o grande momento desse novo filme,
invertendo de maneira esperta o impacto causado por essa mesma fala na boca de
Charlton Heston há mais de 40 anos), quanto em citações a eventos que se
relacionam diretamente com o que ocorre no longa de 1968 (o lançamento da
primeira missão tripulada a Marte, a cena nos créditos finais) –, ou se é
simplesmente um novo começo para esta, o filme de Rupert Wyatt (quem?)
impressiona pela calma que tem ao desenvolver sua trama e seus personagens:
cada pequeno detalhe que vá justificar a rebelião dos símios e a liderança
desta pelo personagem de Andy Serkis está lá, colocado em seu devido lugar.
Serkis que, por sinal, é um dos responsáveis diretos por aquele que é o maior
mérito de Planeta dos Macacos:
A Origem: Caesar. Em nada devendo à sua composição de Gollum em O Senhor dos Anéis e do gorila gigante de King Kong, o ator dá vida aqui
a uma figura complexa basicamente através de suas expressões faciais e de seu
gestual, um personagem que cativa desde sua primeira aparição, e que constrói,
passo a passo, um domínio de cena absurdo, que faz com que seu poder no final
do filme seja plenamente justificável. É impossível não se encantar com o
Caesar de Serkis e desejar seguí-lo. Não que isso seja possível a nós, humanos
- somos, na verdade, o inimigo a ser combatido. Infelizmente.
Rise of the Planet of the Apes, 2011
Rupert Wyatt
3 comentários:
Não assisti nem o original. Portanto prefiro não ver este por enquanto. Se ver, tenho a impressão de estar perdendo algo.
Estou até curioso com este filme, mas não o bastante para vê-lo o quanto antes. Enfim, um dia eu crio vergonha na cara e vejo o clássico e este aqui.
Abs.
Acho que sou um dos poucos que não gostaram desse filme. Acho o desenvolvimento de Caesar muito bem trabalhado na história, mas todos os personagens humanos e suas motivações deixam a desejar por um roteiro óbvio, previsível e mal trabalhado. Daí, concordar contigo que o Andy Serkis é o maior mérito do projeto. Gosto do primeiro filme, embora faça muito tempo que o vi, precisaria conferi-lo, assim como os os sucessores.
Achei um filmaço. Concordo com tudo que você comenta, e acho interessante que você também considere que o roteiro é sim preocupado em desenvolver o que cabe especialmente aos fins maiores da narrativa. Aí, claro, há uma confluência que leva à performance cheia de nuances de Serkis, e um trabalho exímio de um diretor que agora deve receber atenção (equilibra a ação e impõe senso de ritmo, além de ser cuidadoso com detalhes). [8/10]
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