segunda-feira, 8 de agosto de 2011


[jackie brown]

Jackie Brown
Jackie Brown, 1997
Quentin Tarantino


Não é difícil encontrar quem considere Jackie Brown um filme menor de Quentin Tarantino. Diante da explosão de violência e cultura pop de Cães de Aluguel e Pulp Fiction, talvez o terceiro longa do diretor soe enfadonho, com seus diálogos longos e trama quase totalmente linear. É difícil, num primeiro momento, enxergar aqui a genialidade de seus dois filmes anteriores. Injustiça, das grandes - Jackie Brown é uma preciosidade a ser descoberta.
Sempre me encantou no cinema de Tarantino - dentre outras milhares de coisas - a calma com que o diretor conduz suas tramas. A atmosfera cool que envolve os personagens de Pulp Fiction, por exemplo, parece se estender para o ofício do próprio cineasta, que, em ritmo relaxado (mas nunca desleixado, sempre perfeccionista ao extremo), move seu filme adiante. E Jackie Brown talvez seja a obra em que essa característica fica mais evidente. Tarantino radicaliza a opção de inserir afazeres e diálogos cotidianos nas vidas de seus personagens (algo que já ocorrera de forma memorável em seus dois longas anteriores), desglamourizando totalmente tanto criminosos (como aqueles interpretados maravilhosamente por Samuel L. Jackson e Robert De Niro) quanto homens da lei (os personagens de Robert Forster e Michael Keaton, por exemplo). Desglamouriza, em certo sentido, seu próprio cinema. E compõe, a partir daí, um retrato meio-amargo de uma Los Angeles que, apesar de ensolarada, nada tem de "cidade dos sonhos".
Jackie Brown é o atestado de maturidade de Tarantino enquanto diretor de cinema (sua mise-en-scéne é primorosa), por mais que não seja seu melhor filme (mas nem está tão longe disso). Maturidade que se materializa, na trama, no relacionamento entre os personagens de Pam Grier e Robert Forster: dois adultos, castigados pela vida, que se interessam um pelo outro, sem grandes arroubos de loucura e paixão - e sem necessariamente concretizarem esse interesse. Quem esperaria de Quentin Tarantino uma das mais singelas e verdadeiras histórias de amor do cinema americano da década de 1990?

2 comentários:

Alan Raspante disse...

Ainda não vi, mas conhecia a fama do filme de ser 'um filme menor' de Tarantino. Bem só vendo pra crer... Seu texto me deixou entusiasmado =D

Rafael Carvalho disse...

História de amor das mais improváveis, diga-se. Acho que reunindo todos os filmes do Tarantino, esse é o que ficaria em último lugar para mim, o que não quer dizer que seja ruim. Longe disso, realmente há uma maturidade bastante evidente de mise-en-scène, em que a sutileza é sua maior virtude.