sábado, 12 de fevereiro de 2011


[127 horas]

127 Horas
127 Hours, 2010
Danny Boyle


Danny Boyle apareceu para o mundo em um filme onde uma história forte, carregada de imagens pesadas, era contada com um balanço pop contagiante, que tornava tudo menos intragável e mais divertido. Estou falando de Trainspotting, claro, um dos filmes-símbolo da década de 1990. Durante o transcorrer de sua carreira, Boyle nunca perdeu essa veia pop, mesmo em bobagens como A Praia, mas não voltou a contar histórias fortes, com imagens de violência e brutalidade difíceis de esquecer - bem, talvez em Extermínio haja algumas do tipo, não me recordo, mas, como era um filme de zumbi, seria o mínimo de se esperar. A amenização temática e imagética de seu cinema alcançou o ápice no premiadíssimo Quem Quer Ser um Milionário?, onde Boyle abria mão de qualquer vontade de ser realista ao filmar um contexto potencialmente violento, em prol de uma atmosfera de conto de fadas que, apesar de encantadora até certo ponto, chegava a um exagero irritante em determinados momentos.
127 Horas, seu primeiro trabalho após os 8 Oscars vencidos por seu filme "indiano", é uma boa chance de retorno do diretor a esse cinema mais próximo de Trainspotting. Boyle tem nas mãos uma história real que geraria, inevitavelmente, um filme angustiante - afinal, trata-se de um sujeito preso em um canyon, e que faz de tudo para sobreviver, tudo mesmo. Por outro lado, por ser praticamente um filme de um ator só, em um único cenário, durante 90 minutos, 127 Horas corria o sempre presente risco de se tornar entediante e repetitivo. Nesse sentido, é fundamental para o êxito do filme o olhar pop de Boyle. Sua montagem acelerada ajuda a tornar tudo menos cansativo e palatável, e a narrativa flui com um bom ritmo. No entanto, há de se levar em conta que talvez um olhar mais seco e brutal poderia dar uma dimensão mais precisa para o drama daquele sujeito, já que há uma inegável atmosfera feel good ao longo do filme (o que me faz pensar no que 127 Horas poderia ser se dirigido por um Werner Herzog, por exemplo). De qualquer forma, quando o tão comentado momento em que o protagonista tem que tomar uma decisão definitiva sobre sua situação chega, Boyle consegue criar uma cena suficientemente impactante para que até o mais forte dos espectadores se sinta tentado a tapar os olhos ou virar o rosto. Ou seja, no fim, o saldo é positivo, ainda mais que o filme tem como trunfo maior um desempenho assombroso de James Franco. 127 Horas não chega ao nível de Trainspotting, mas é provavelmente o melhor filme de Danny Boyle desde que Mark Renton passou pelas telas de cinema.


P.S.: na última quarta-feira a Liga dos Blogues Cinematográficos, da qual faço parte, divulgou o resultado de seu prêmio anual de cinema, o Alfred. Confira aqui a lista dos premiados. Uma dica: o principal vencedor foi o filme mais adorável de 2010...

8 comentários:

Unknown disse...

Concordo absolutamente com o que você escreveu, e irei apontar exatamente isto no meu próprio texto: a tendência que 127 Horas tem para o tédio, que Boyle tenta atenuar com uma atmosfera "feel good". Preferia (novamente adaptando sua citação) uma visão mais cruel sobre o drama de Aaron.
A única ressalva é a de que preferi o filme de Jamal a este. =)

Mayara Bastos disse...

Dos indicados ao prêmio principal do Oscar, só falta este. Já que reune a equipe de "Slumdog" só muda o tema, deve valer a conferida. ;)

Unknown disse...

Rapaz, deixei um selo pra você no meu blog, em reconhecimento ao seu ótimo trabalho aqui no Crônicas Cinéfilas! Quando puder, dá uma olhadinha lá. ;)

Luana disse...

Olá, estou fazendo divulgação da ópera Carmen 3D que a Cinemark está trazendo com exclusividade para o Brasil em março e gostaria de enviar mais informações para o blog. É a primeira ópera filmada em 3D, numa montagem da Royal Opera House, de Londres, legendada em português. Caso tenham interesse, é só entrar em contato pelo email luanarocha[arroba]belemcom.com.br

Wallace Andrioli Guedes disse...

Pois é, Weiner, essa atmosfera pop do filme é boa por uma lado, como disse, pois ajuda no ritmo de uma narrativa onde muito pouco acontece, onde somos obrigados a passar praticamente todo o tempo com apenas um personagem no mesmo cenário. Por outro, realmente seria interesse ver um filme mais "porrada". De qualquer forma, gosto do resultado final, e acho mesmo superior ao QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? (que também não é um mal filme, apesar de alguns muitos problemas...).
Mayara, o filme vale uma conferida sim. Aliás, venho cada vez gostando mais dele.

Anônimo disse...

'127 horas' é muito bom mas eu esperava um pouco mais

http://filme-do-dia.blogspot.com/

gustavo disse...

concordo.
Bom filme, mas ainda longe daquela obra-prima dos anos 90 (Trainspotting)!

Rafael Carvalho disse...

Achei esse filme mais um embuste do Boyle, depois da porcariazinha que é o Milionário. A história é boa, mas me soa vazia. Não me convecem os flashbacks, as alucinações, tudo artificial demais.

E deixa eu descordar de duas coisas: a cena do "clímax" do filme é totalmente sabotada por uma montagem horrível, tira grande parte da força do momento, por isso não impactou tanto. E outra, o Franco é bom ator, mas aqui ele faz pouquíssimo pelo personagem, muito mal construído pelo roteiro por sinal.