Christopher Nolan é um grande entertainer. Talvez o maior da Hollywood atual. O diretor incorpora tudo aquilo que a dupla de protagonistas de um de seus melhores filmes, O Grande Truque, buscava produzir: entretenimento de qualidade agregado a uma imensa capacidade de instigar. Nolan é um desafiador de plateias, mas não deixa de ser, em nenhum momento, parte do mainstream. A Origem é uma mostra perfeita disso. É, antes de qualquer coisa, um gigantesco e megalomaníaco filme de ação, com um ritmo ininterrupto, vertiginoso, bem próximo ao de seu último trabalho, a obra-prima O Cavaleiro das Trevas. E, como tal, é irretocável: é dono de uma narrativa absurdamente tensa e envolvente, que faz suas quase 2 horas e meia de duração passarem voando, e de algumas sequências de cair o queixo (Paris dobrando-se sobre si mesma é a melhor delas).
Ao mesmo tempo, o filme é construído sobre um roteiro que busca, a todo o tempo, provocar o espectador, confundi-lo (mas não muito), surpreendê-lo. Não é, de forma alguma, um filme preguiçoso, repetidor de fórmulas de sucesso, por mais que a ousadia de Nolan tenha limites, e A Origem nunca trabalhe excessivamente no campo do absurdo (algo que seria bastante plausível, em se tratando de um filme sobre sonhos). Um bom exemplo disso é o uso, esperado, de uma personagem como alter-ego da plateia, alguém para quem todos os passos do que acontece na tela será explicado - aqui, interpretada por Ellen Page. Esse é um recurso válido e compreensível e, justiça seja feita, Nolan o utiliza com parcimônia, passando longe de um didatismo em excesso, mas, ainda assim, é uma demonstração de que o diretor não está disposto a radicalizar demais na sua abordagem do tema. O que se tem em A Origem é algo muito mais próximo de um Matrix do que de um Cidade dos Sonhos, por exemplo. Christopher Nolan não é David Lynch, e nem quer ser, e isso não é demérito algum.
No entanto, em algo Nolan e Lynch se aproximam, se esbarram: ambos sabem como tornar empáticos personagens e situações frequentemente confusas, inexplicáveis (ao menos à primeira vista). Os dois diretores se preocupam muito com a construção dos dramas das figuras que permeiam seus filmes, dramas que, muitas vezes, tomam conta da narrativa, se sobrepondo mesmo aos seus mistérios e reviravoltas. Era difícil não se envolver e comover com a personagem de Naomi Watts em Mulholland Drive, mesmo quando não tinhamos a menor ideia do que estava acontecendo com ela. E, em A Origem, é igualmente difícil desprender-se da tragédia vivida por seu protagonista (interpretado por um Leonardo DiCaprio perfeito). Em meio a tantas explosões, tiros, correria, explicações, reviravoltas, o momento chave do filme de Nolan, aquele que dá um nó na garganta do espectador, é justamente quando o passado trágico do personagem de DiCaprio é revelado, num belíssimo flashback ao lado de Marion Cotillard. É ali que todo o filme se justifica. E é ali que Christopher Nolan confirma o que muitos parecem saber, mas poucos colocam realmente em prática: entretenimento, sem alma, sem o elemento humano, cai rapidamente no esquecimento. Felizmente, esse não é o caso.
Ao mesmo tempo, o filme é construído sobre um roteiro que busca, a todo o tempo, provocar o espectador, confundi-lo (mas não muito), surpreendê-lo. Não é, de forma alguma, um filme preguiçoso, repetidor de fórmulas de sucesso, por mais que a ousadia de Nolan tenha limites, e A Origem nunca trabalhe excessivamente no campo do absurdo (algo que seria bastante plausível, em se tratando de um filme sobre sonhos). Um bom exemplo disso é o uso, esperado, de uma personagem como alter-ego da plateia, alguém para quem todos os passos do que acontece na tela será explicado - aqui, interpretada por Ellen Page. Esse é um recurso válido e compreensível e, justiça seja feita, Nolan o utiliza com parcimônia, passando longe de um didatismo em excesso, mas, ainda assim, é uma demonstração de que o diretor não está disposto a radicalizar demais na sua abordagem do tema. O que se tem em A Origem é algo muito mais próximo de um Matrix do que de um Cidade dos Sonhos, por exemplo. Christopher Nolan não é David Lynch, e nem quer ser, e isso não é demérito algum.
No entanto, em algo Nolan e Lynch se aproximam, se esbarram: ambos sabem como tornar empáticos personagens e situações frequentemente confusas, inexplicáveis (ao menos à primeira vista). Os dois diretores se preocupam muito com a construção dos dramas das figuras que permeiam seus filmes, dramas que, muitas vezes, tomam conta da narrativa, se sobrepondo mesmo aos seus mistérios e reviravoltas. Era difícil não se envolver e comover com a personagem de Naomi Watts em Mulholland Drive, mesmo quando não tinhamos a menor ideia do que estava acontecendo com ela. E, em A Origem, é igualmente difícil desprender-se da tragédia vivida por seu protagonista (interpretado por um Leonardo DiCaprio perfeito). Em meio a tantas explosões, tiros, correria, explicações, reviravoltas, o momento chave do filme de Nolan, aquele que dá um nó na garganta do espectador, é justamente quando o passado trágico do personagem de DiCaprio é revelado, num belíssimo flashback ao lado de Marion Cotillard. É ali que todo o filme se justifica. E é ali que Christopher Nolan confirma o que muitos parecem saber, mas poucos colocam realmente em prática: entretenimento, sem alma, sem o elemento humano, cai rapidamente no esquecimento. Felizmente, esse não é o caso.
Inception, 2010
Christopher Nolan
6 comentários:
Concordo contigo: Nolan é um grande diretor; sempre foca na diversão do público, mas nunca de uma maneira insossa, burra e sem graça. Já "A Origem", não rola... Enfilizmente, achei fraco demais.
Um forte abraço.
Alexandre, achei que, por concordar comigo sobre o Nolan, concordaria também sobre A ORIGEM. Acho que o filme é o ápice do "entretenimento inteligente" na carreira do diretor.
vou ver esse filme hoje...o tiaguito viu e amou (como ele mesmo pos no blog)...expectativas mil!
bjussssssss
p.s: lá no blog tem sorteio de brindes, dá uma passadinha lá...bjusssss
O sentimento ao fim é claro: o de revisão. Não só para absorver todas aquelas minúcias e consolidar teorias, mas para simplesmente sentir tudo aquilo novamente. Aplaudo de pé.
É, eu também preciso ver de novo...
Acho muito válido que Hollywood tenha um diretor como o Nolan por lá, porque faz entretenimento de qualidade. Gosto muito de A Origem, mas não a ponto de colocá-lo entre os melhores do ano, por exemplo. Mas só por fazer um fime comercial altamente inteligente, já está de parabéns. Que ele continue assim!
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