Tim Burton é o cineasta do quase. Em sua vasta filmografia há sim grandes filmes (Edward Mãos-de-Tesoura, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Sweeney Todd), mas somente uma obra-prima: o pouco visto Ed Wood. Todos esses outros trabalhos que citei, e tantos mais, são filmes memoráveis em alguns aspectos, especialmente em sua composição visual, mas que, por um motivo ou por outro, estão sempre a um passo de se tornarem obras-primas, mas não chegam lá. Ficam no quase.
O esmero excessivo de Burton com o visual de seus filmes é, sem dúvidas, admirável. É, provavelmente, um dos grandes responsáveis pelo culto que existe ao diretor entre determinados grupos (algo um tanto irritante, na verdade, principalmente quando citam Burton como se o cineasta fosse um gênio e como se o fato de adorá-lo representasse uma marca de inteligência, de conhecimento cinematográfico e de visão "alternativa" do mundo do cinema). No entanto, talvez seja também um dos principais responsáveis pela falha constante de seus trabalhos. Há muita forma e pouco conteúdo no cinema de Burton. E não há exemplo melhor disso do que seu mais recente filme, Alice no País das Maravilhas.
Visualmente esplendoroso, como seria de se esperar, a nova adaptação do clássico de Lewis Caroll é insossa do início ao fim. É a radicalização do cinema de Burton: cenários (digitais) grandiosos, cores, efeitos especiais e maquiagem em excesso vêm acompanhados de pouquíssima profundidade dramática, personagens rasos como um pires, metáforas e mensagens óbvias... ao lado de seu companheiro frequente de exagero, Johnny Depp, Burton perde de vez a mão, e entrega aquele que talvez seja seu pior filme. Porque, diferentemente de todos os outros exemplares de sua filmografia, Alice no País das Maravilhas consegue ainda ser um porre. E olha que não tem nem 2 horas de metragem! Talvez este represente, ao menos, uma boa oportunidade para o cineasta repensar o tipo de cinema que vem produzindo ao longo de mais de 20 anos. Afinal, foi quando fez um filme pequeno, em preto-e-branco, sem elementos fantásticos, sobre a vida daquele que é considerado o pior cineasta de todos os tempos, que Tim Burton alcançou seu ápice.
3 comentários:
Gostei do "cinema do quase". Realmente este filme foi um "almost Alice". Ficou tão no meio termo (é o que, Burton ou Disney?) que ficou enfraquecido. Ainda assim, até o ato final pavoroso, achei o filme um deleite.
Este filme peca pelo roteiro fraco e extremamente bobo, além de falhas nas interpretações – mas, eu achei o Depp bom, quem ficou realmente caricata foi Anne Hathaway e Mia Wasikowska (além de fisicamente parecida com Gwyneth Paltrow, parecia ela atuando, rs) não mostrou densidade. Não vi nenhum ‘choque’ dela – pelo menos a ausência de expressão da atriz proporciona isso – em cenas que a própria Alice deveria transmitir isso. Ela, em momento algum, parece deslumbrada ou mesmo mostra “medo” e fragilidade em momentos que deveria transparecer esse condicionamento. Mas, nem foi culpa dela, mas sim problemas de direção do Burton (a menininha Alice também soava estranha, apática e artificial) e do roteiro esquisito. A direção foi muito, mas muito mecanizada…e o roteiro da metade pro final fica totalmente chato…o personagem de Depp, certas falas ditas e certas cenas soam totalmente tediosas…Desnecessárias passagens da Alice com sua família, aquele casamento tosco com o caricato pretendente dela e a dancinha dela (e do Depp também) me deixaram com vergonha alheia, rs.
E vou ser sincero, nem achei tãaaao bem feito os efeitos visuais – a cena que ela cai do buraco, achei bem mecânica e deu pra sentir bem a montagem e tal. Parecia o tempo todo que Mia Wasikowska estava atuando apenas num cenário 3D, não dava forma na atuação e nem os efeitos – totalmente em excessos e cansativos – proporcionava um lirismo…
Engraçado que pseudos críticos e blogueiros por aí contestam atuações do elenco de Crepúsculo e não perceberam o quão apática, superficial e mecânica foi a atuação de Mia…e tenho certeza que ela estava também desconfortável ali, visto que na série “In Treatment” ela foi intensa, versátil e tinha textura dramática…
Gostei mais da trilha sonora do Danny, um recurso muito apurado e marcante! deu todo o clima e atmosfera ao filme…logo nos créditos iniciais; gostei da caracterização de Helena Bonham Carter (muito, mais muito cõmica e cruel!) e achei que a cenografia estava mesmo um primor.
Mas, tudo foi meio chatinho: por vezes, cansava o excessivo efeito visual, o roteiro frouxo e meio louco, enfim…
Abraço
Insosso. Essa é a expressão certa para o filme. Ou talvez "balofo" porque, por mais recheado de efeitos e belezas visuais, o filme soa vazio, sem expressividade, essa sensação de "e dái?" no final. Um tiro n'água do sr. Burton.
Postar um comentário