terça-feira, 19 de janeiro de 2010

[curtinhas: no cinema]

Sherlock Holmes
Sherlock Holmes, 2009
Guy Ritchie


É com uma historinha bem meia-boca que o detetive Sherlock Holmes e seu parceiro Watson são apresentados a uma nova geração de cinéfilos. O filme de Guy Ritchie (definitivamente um peixe fora d'água em um projeto desse tamanho) é bacana, movimentado, tem uma boa reconstituição de época e reinventa com êxito seu protagonista. Sherlock Holmes, o filme, tem, acima de tudo, o mérito de fazer de sua dupla de protagonistas seu motor - e Ritchie explora ao máximo a química gigantesca entre Robert Downey Jr. (que, por mais que acabe repetindo de certa forma seus trejeitos de sempre, acaba se revelando a escolha perfeita para o papel, dando ao seu Holmes um ar cínico irresistível) e Jude Law.

O problema está mesmo no roteiro. Ritchie parece ter acreditado que bastava ter dois ótimos atores à frente do elenco, esbanjando entrosamento, que o resto se resolveria. Não é bem assim. A trama de Sherlock Holmes até começa bem - na verdade é impecável em sua primeira meia-hora - mas aos poucos vai descambando para um sem-número de lugares-comuns (sociedades secretas, femme fatales, capangas grandalhões aparentemente indestrutíveis, um super-vilão com um plano para dominar o mundo...), até chegar no manjado confronto final entre o herói e seu opositor - aliás, não deixa de ser lamentável a falta de criatividade dos roteiristas dessas grandes produções hollywoodianas, que insistem em sempre resolver suas tramas com um confronto físico no final. E ainda piora quando o diretor opta por inserir aqueles irritantes flashbacks explicativos, onde o protagonista demonstra passo-a-passo como revelou o mistério do filme. É um recurso preguiçoso, didático ao extremo, e de gosto duvidoso.
Me pergunto se Sherlock Holmes não poderia ser um grande filme, mantendo a mesma dupla de protagonistas e a proposta de reinvenção do detetive criado por Arthur Conan Doyle, mas com um clima mais sombrio, menos cômico. Um filme de suspense, um thriller nas mãos de um David Fincher, por exemplo, ao invés de um longa de ação como esse aqui. Provavelmente nunca saberemos...


Onde Vivem os Monstros
Where the Wild Things Are, 2009
Spike Jonze


O que mais impressiona em Onde Vivem os Monstros é a capacidade que Spike Jonze demonstra de transformar um fiapo de história, e ainda por cima com sérias tendências para se tornar infantilóide, em um filme dramaticamente poderoso. É um filme infantil adulto. Tem uma criança como protagonista, trata do universo infantil, mas é de uma maturidade gigantesca. Cada mínimo detalhe da personalidade ainda em formação do pequeno Max (interpretado pelo excelente Max Records) é destrinchado com sutileza pelo diretor, sem forçar a barra, e sem querer, no fim, passar de forma clara alguma mensagem. É claro que há uma "moral da história" ali, até porque o filme baseia-se em um clássico da literatura infantil norte-americana, mas ela surge sutilmente, com calma, sem que alguém precise pronunciá-la em palavras para que a reconheçamos. E, aliás, essa moral serve apenas para aumentar a força da obra de Jonze: o reconhecimento de nossos monstros internos, que nos perseguem, seja na vida real, seja em um mundo imaginário qualquer, e a necessidade de enfrentá-los.

Chama atenção também a dinâmica criada por Jonze entre seu jovem protagonista e os monstros que habitam seu mundo imaginário (que são, aliás, visualmente impressionantes). É uma relação de amizade adorável num primeiro momento, ainda que baseada em uma certa necessidade de subordinação. Mas, aos poucos, estabelece-se uma tensão que beira o insurpotável, com a ameaça sempre presente de que uma daquelas criaturas possa de fato devorar Max - o que quase transforma Onde Vivem os Monstros em um filme de terror, e que me fez imaginar a possibilidade de um final trágico para aquela história. Bem, acho que de certa forma é um filme de terror: encarar o que realmente somos costuma ser mesmo bem aterrorizante. Aqui reside o principal ponto de maturidade de Onde Vivem os Monstros, que o torna muito mais adulto do que tantos filmes que se vendem como tal.

3 comentários:

Diego Rodrigues disse...

Eu adorei Onde Vivem os Monstros. Mesmo. Adorei de dar 5 estrelas para o filme e já o considerar um dos melhores do ano sem nem o ano começar (exgaero n? nem to)

Sherlock Holmes é divertido. E só! E só mesmo. Pelo menos Guy Ritchie não fez nada que estragasse a aventura. Vai ver Christopher Nolan daqui a pouco resolva fazer um filme do detetive mais sério, ou quem sabe Michael Mann, sei lá!

Wallace Andrioli Guedes disse...

É verdade, Diego, Nolan e principalmente Mann também seriam bons nomes...

Anônimo disse...

Gostei de "Sherlock Holmes", ainda que eu reconheço que tenha seus problemas variados. Quero MUITO ver o filme de Jonze.