É com uma historinha bem meia-boca que o detetive Sherlock Holmes e seu parceiro Watson são apresentados a uma nova geração de cinéfilos. O filme de Guy Ritchie (definitivamente um peixe fora d'água em um projeto desse tamanho) é bacana, movimentado, tem uma boa reconstituição de época e reinventa com êxito seu protagonista. Sherlock Holmes, o filme, tem, acima de tudo, o mérito de fazer de sua dupla de protagonistas seu motor - e Ritchie explora ao máximo a química gigantesca entre Robert Downey Jr. (que, por mais que acabe repetindo de certa forma seus trejeitos de sempre, acaba se revelando a escolha perfeita para o papel, dando ao seu Holmes um ar cínico irresistível) e Jude Law.
O que mais impressiona em Onde Vivem os Monstros é a capacidade que Spike Jonze demonstra de transformar um fiapo de história, e ainda por cima com sérias tendências para se tornar infantilóide, em um filme dramaticamente poderoso. É um filme infantil adulto. Tem uma criança como protagonista, trata do universo infantil, mas é de uma maturidade gigantesca. Cada mínimo detalhe da personalidade ainda em formação do pequeno Max (interpretado pelo excelente Max Records) é destrinchado com sutileza pelo diretor, sem forçar a barra, e sem querer, no fim, passar de forma clara alguma mensagem. É claro que há uma "moral da história" ali, até porque o filme baseia-se em um clássico da literatura infantil norte-americana, mas ela surge sutilmente, com calma, sem que alguém precise pronunciá-la em palavras para que a reconheçamos. E, aliás, essa moral serve apenas para aumentar a força da obra de Jonze: o reconhecimento de nossos monstros internos, que nos perseguem, seja na vida real, seja em um mundo imaginário qualquer, e a necessidade de enfrentá-los.
Chama atenção também a dinâmica criada por Jonze entre seu jovem protagonista e os monstros que habitam seu mundo imaginário (que são, aliás, visualmente impressionantes). É uma relação de amizade adorável num primeiro momento, ainda que baseada em uma certa necessidade de subordinação. Mas, aos poucos, estabelece-se uma tensão que beira o insurpotável, com a ameaça sempre presente de que uma daquelas criaturas possa de fato devorar Max - o que quase transforma Onde Vivem os Monstros em um filme de terror, e que me fez imaginar a possibilidade de um final trágico para aquela história. Bem, acho que de certa forma é um filme de terror: encarar o que realmente somos costuma ser mesmo bem aterrorizante. Aqui reside o principal ponto de maturidade de Onde Vivem os Monstros, que o torna muito mais adulto do que tantos filmes que se vendem como tal.
3 comentários:
Eu adorei Onde Vivem os Monstros. Mesmo. Adorei de dar 5 estrelas para o filme e já o considerar um dos melhores do ano sem nem o ano começar (exgaero n? nem to)
Sherlock Holmes é divertido. E só! E só mesmo. Pelo menos Guy Ritchie não fez nada que estragasse a aventura. Vai ver Christopher Nolan daqui a pouco resolva fazer um filme do detetive mais sério, ou quem sabe Michael Mann, sei lá!
É verdade, Diego, Nolan e principalmente Mann também seriam bons nomes...
Gostei de "Sherlock Holmes", ainda que eu reconheço que tenha seus problemas variados. Quero MUITO ver o filme de Jonze.
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