sexta-feira, 6 de novembro de 2009

[besouro]

Besouro
Besouro, 2009
João Daniel Tikhomiroff


Besouro é um filme ruim. E, ao contrário do que muita gente poderia pensar, não é por causa de suas cenas de luta à lá Zhang Yimou - na verdade, estas, filmadas com competência por João Daniel Tikhomiroff, funcionam muito bem, e se revelam como a melhor coisa da obra. A questão é: até que ponto é válido para o cinema brasileiro dedicar-se a trabalhos destinados a publicos específicos, e mais, a públicos que professam determinadas crenças religiosas? Extendo aqui, então, o mesmo questionamento que deve ser feito sobre a validade de filmes como os do Padre Marcelo Rossi, ou o recente "cinema espírita" (preparem-se, vem aí o filme de Daniel Filho sobre Chico Xavier...), para a valorização do candomblé feita por Besouro. A priori, sou contrário a esse tipo de filme, mas parece-me inegável que, no caso da referida religião afro-brasileira, as coisas talvez possam mudar um pouco de figura: afinal, não deixa de ser prazeroso ver uma crença vítima de tantos preconceitos em toda a nossa história, e ainda hoje tão marginalizada (conta-se nos dedos as referências positivas feitas ao candomblé - e outras religiões afins - nos meios de comunicação brasileiros), ganhar espaço nas salas de cinema. Nesse sentido, essa uma transgressão levada à cabo por Besouro e que mereceria, à primeira vista, aplausos.
No entanto, e chego aqui ao segundo questionamento que me aflige, por que não ir além com esse comportamento transgressor? Por que contar uma história notadamente marginal, num formato absurdamente tradicional, optando por uma série de lugares-comuns (herói orgulhoso que aprenderá a controlar sua força para finalmente cumprir seu destino... heróico; mestre ancião cheio de sabedoria que insiste em aparecer, quase como um Obi-Wan Kenobi do recôncavo baiano, para esse herói; vilões caricatos, malvados até o último fio de cabelo; amigo enciumado que trai o herói; e por aí vai...) que irritam profundamente? Assim, um tema transgressor é sufocado por um formato extremamente tradicional, e acaba por se tornar, ele também, tradicional.

4 comentários:

Bruno disse...

Pra ser sincero, não tenho curiosidade alguma em assistir a esse "Besouro", ainda que aqui na Bahia tenha havido toda uma programada intesa sobre ele (por uma questão histórica, aqui teoricamente teria mais público pra proposta desse filme). Realmente não despertou minha curiosidade... pelo trailer, já me parecia ser um daqueles filmes que enveredam para o lado ruim do cinema brasileiro. Mas concordo que é prazeroso ver uma crença, vítima de tantos preconceitos, como o candomblé ganhar espaço no cinema. Ah, e ainda que tenham sido filmadas com competência, sei que eu não gostaria das cenas de luta desse filme, pois em geral detesto essas cenas de luta "à lá" Zhang Yimou, como vc disse, hehe. Abraço!

Wally disse...

Tinho lidro críticas duras, mas até agora a sua foi a mais, digamos, detratora. Medo do filme.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Eu ainda me arrependo de ter gasto meu dinheiro com esse filme...

Rafael Carvalho disse...

Acho que apesar do resultado positivo ou negativo do filme, faz muito bem para a nossa filmografia se aventurar na realização de um filme de gênero, coisa muito pouco valorizada no nosso cinema. É preciso mais ousadia para se fazer obras diferentes do que sempre chega pra gente.