
Um filme sobre um padre que se transforma em vampiro, dirigido pelo mesmo sujeito que fez a obra-prima Oldboy tinha tudo para ser uma pérola. Não foi a toa que Sede de Sangue sempre figurou entre os filmes desse Festival que mais aguardava. Imensa expectativa, frustração maior ainda. É impressionante como tudo dá errado no filme de Chan-Wook Park. Ele parece não saber onde quer chegar, misturando história de vampiro (cuja origem é explicada de forma muito apressada), comédia familiar e um triângulo amoroso bizarro, sendo o resultado algo indefinível, mas impossível de se apreciar. O que mais irrita, na verdade, é o tom exageradamente cômico que o diretor dá ao filme - se em algumas obras recentes, e de alta qualidade, do cinema sul-coreano, como o próprio Oldboy, O Hospedeiro e Mother, o humor foi utilizado numa medida exata, aqui ele é levado a um extremo incômodo, beirando o pastelão, algo que simplesmente não tem a ver com aquela história contada. Daí, tudo fica pela metade: o drama do protagonista, o embate entre sua fé e os atos que passa a ter de cometer, sua relação com o sexo, e mesmo a história de amor que move a narrativa. Sai qualquer possibilidade de desenvolver um desses pontos com maior cuidado para entrar um bizarro grupo de personagens secundários, responsáveis pela comicidade de Sede de Sangue, e que só servem para fazer tudo desandar. Foi, de longe, a maior decepção desse Festival do Rio. Uma pena. Se antes de Sede de Sangue, me interessava de imediato por qualquer coisa feita por Chan-Wook Park, agora já estou revendo meus conceitos.
Five Minutes of Heaven
Five Minutes of Heaven, 2009
Oliver Hirschbiegel

Não sei se seria precipitado dizer que o tema das disputas político-religiosas na Irlanda nas últimas décadas está esgotado para o cinema, mas é fato que fica difícil dizer algo de novo depois dos olhares de gente como Jim Sheridan (Em Nome do Pai) e Paul Greengrass (Domingo Sangrento). Oliver Hirschbiegel, um alemão (!), tentou com esse Five Minutes of Heaven, mas não conseguiu muita coisa. A premissa do filme é, na realidade, bastante promissora, no entanto, a verdade é que Five Minutes of Heaven não tem lá muito a dizer. É curto demais, tem um James Nesbitt estranhamente exagerado, fora do tom dramático que a história pede (e o contraponto com a precisão da composição de Liam Neeson torna isso bem mais claro), e ainda desperdiça a excepcional Anamaria Marinca (de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias) em um papel minúsculo. Hirschbiegel até constrói algumas cenas interessantes, especialmente quando trabalha a tensão pré-encontro dos protagonistas diante das câmeras de TV, o que também não deixa de ser um avanço na carreira de alguém que fez um filmaço como A Queda, mas que logo depois fez aquela bomba chamada Invasores. No entanto, é pouco. É pouco para um diretor que, sem dúvidas, já foi melhor, e é pouco para um tema que já foi explorado com resultados muito melhores pelo cinema.