Sempre tive os filmes de James Bond em baixa conta, como aventuras bobas e repetitivas com um protagonista que me parecia anacrônico e pretensamente charmoso. Tolice minha, sei disso, mas foi só com o início da releitura do personagem em Cassino Royale, que se estende até hoje, que comecei a realmente me importar com 007. Vivido, desde o filme de 2006, por Daniel Craig, o agente secreto britânico foi transformado numa figura brutal, letal, mas também vítima de ameaças à sua vida que soam um tanto mais críveis que aquelas enfrentadas nos tempos de Sean Connery, Roger Moore, Pierce Brosnan e outros. É verdade que há aí um bocado do fetiche do realismo que tomou conta do cinema de ação norte-americano nos últimos anos, sobretudo após o Batman de Christopher Nolan, mas é verdade também que a filiação a essa estética, junto com a presença viril, por vezes grosseira, de Craig no papel de Bond, deram uma nova e interessante cara à franquia, depois de anos de mais do mesmo.
Skyfall não foge a essa regra. Como Martin Campbell em Cassino Royale e Marc Forster em Quantum of Solace, Sam Mendes leva o mundo de James Bond muito a sério, estruturando a narrativa de seu filme sobre a relação entre o agente secreto e M (Judi Dench), sua superior, entre o velho e o novo, o arcaico e o moderno. A aposentadoria da chefe do MI6 parece estar a caminho após uma missão fracassada, que a expõe publicamente; 007, por sua vez, é questionado pelo personagem de Ralph Fiennes se não deveria deixar as missões de campo para agentes mais jovens. Completando 50 anos em 2012, a franquia James Bond poderia soar velha, mesmo repaginada. Não seria a hora de abrir espaço para novos heróis? "Juventude nem sempre significa modernidade", responde o protagonista a um jovem Q (Ben Whishaw) em determinado momento do filme. Esse é o recado de Mendes e Bond ao público de cinema do século XXI.
Skyfall está profundamente marcado por essa dialética entre novo e velho. Ao mesmo tempo que é recheado de homenagens e citações a outras obras da série, permanece na estética realista de seus dois predecessores. Ao mesmo tempo que volta ao passado de Bond e de M, aponta para um futuro promissor para a franquia, ao introduzir personagens como os de Whishaw e Fiennes. Nostálgico, classudo, mas cheio de vigor, Skyfall é como seu protagonista, adepto incorrigível do hobby de ressuscitar, vez ou outra, ainda mais forte.
E, se faltava a essa nova fase de 007 um vilão memorável, Javier Bardem deu um jeito de resolver esse problema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário