Amor Sem Escalas é o terceiro longa-metragem de Jason Reitman, e o primeiro após o sucesso do adorável Juno. No entanto, o filme dialoga muito mais com seu trabalho de estreia, o fraco e pretensioso Obrigado por Fumar, do que com a história da adolescente grávida que encantou meio mundo há 2 anos (até porque agora ele volta a trabalhar com um roteiro próprio, ou seja, dessa vez não há Diablo Cody para ajudá-lo). Aqui, assim como no longa com Aaron Eckhart, há um protagonista cínico, desumanizado por seu ofício, e que, talvez até mesmo por isso, parece amar e respeitar muito mais as empresas para quem trabalha do que as pessoas que o cercam. E, nos dois filmes, esse protagonista irá "aprender uma lição".
A vantagem de Amor Sem Escalas sobre esse seu antecessor, no entanto, é que Reitman parece ter amadurecido um pouco (curiosamente, isso aconteceu por meio de um filme sobre uma adolescente feito neste intervalo), e deixado de lado os excessos de Obrigado por Fumar. Seu novo filme é maduro, sereno, não possui tentativas irritantes de ser cool, e consegue realizar um retrato ao mesmo tempo leve e devastador dos efeitos da atual crise econômica nos trabalhadores norte-americanos. Os diálogos destes com o personagem de George Clooney, ainda que muitas vezes pareçam depoimentos para um documentário, são todos muito bons, de cortar o coração (é de Steve Eastin, que vive o personagem sr. Samuels, a mais triste dessas cenas). Amor Sem Escalas tem um outro trunfo: seu protagonista hipnótico. Clooney, a cada dia melhor, surge perfeito no papel do sujeito que vive de demitir pessoas. Consegue ser cínico e adorável ao mesmo tempo, esbanja charme e acaba conquistando pela solidão de seu personagem, e por seus esforços quase quixotescos para dar alguma dignidade àquilo que faz - tarefa que, convenhamos, não é das mais fáceis. Há de se elogiar também a dupla de coadjuvantes Vera Farmiga e Anna Kendrick: a primeira, belíssima e de uma elegância gigantesca em cena, e a segunda, uma grata surpresa, uma jovem atriz (proveniente da Saga Crepúsculo...) que consegue convencer, mesmo com uma personagem facilmente caricaturável.
Não sei se pela interpretação irretocável de Clooney, ou se por vontade de Jason Reitman mesmo, parece haver uma forte identificação do filme com seu protagonista. Nesse sentido (e também por motivos pessoais), acabei identificando-me com sua "filosofia de vida", com o que Ryan Bingham tenta vender naquelas suas palestras motivacionais. E, por isso, irritei-me bastante com a tentativa do roteiro de dar a tal lição no personagem, de provar que, sim, as pessoas só são felizes com uma família ao seu lado, e com alguém para chamar de seu. Me pareceu um olhar excessivamente conservador e convencional, num filme que tinha tudo para ser justamente o oposto - e que, na verdade, o é na maior parte de sua narrativa. Mas vá lá: ao menos Amor Sem Escalas não tem o final feliz tradicional das comédias românticas. Até porque ele não é uma, a despeito do título brasileiro canalha que tenta vendê-lo como tal.
P.S.: em seu terceiro longa, Reitman começa a se firmar como diretor, e a ter seus "atores-assinatura". Assim, estão presentes aqui, novamente, J. K. Simmons, Jason Bateman e Sam Elliott.
3 comentários:
É tão bom observar um Clooney mais maduro!
Preciso conferir este filme!
boa resenha! abraço!
Gostei muito mais do filme. Ele me afetou em um nível muito mais emocional e achei a direção de Reitman das mais eloquentes.
[*****]
Wally (http://cinevita.com.br/)
Wally, eu acho o filme um avanço na carreira do Reitman, talvez seja seu melhor trabalho de direção, pela elegância que consegue impôr à narrativa. Mas não consigo gostar tanto do filme...
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