


O grande problema desta primeira temporada de The Walking Dead é sua duração excessivamente curta (são apenas 6 episódios). Apesar de trabalhar em um universo já explorado à exaustão em outras mídias (particularmente o cinema), e de não trazer nada de realmente novo a este universo (ao menos por enquanto), a série criada e produzida por Frank Darabont funciona muito bem. Os atores são ótimos (me chamaram mais atenção o protagonista, Andrew Lincoln, e o ator-fetiche do diretor, o sempre ótimo Jeffrey DeMunn, mas não há quem esteja mal em cena), os personagens bem desenvolvidos, a trama envolvente, os zumbis repugnantes e assustadores.
Assim como em seu memorável O Nevoeiro, Darabont opta por utilizar uma ameaça externa e irracional para falar dos seres humanos que têm de enfrentá-la, levá-los até o limite, e lembrar ao espectador o quanto a tal natureza humana pode ser sinistra. Também não há nada de novo aqui, mas Darabont sabe fazer isso como poucos. Na verdade, acho que o grande problema da primeira temporada de The Walking Dead não é sua curta duração, mas sim o fato de ser absurdamente viciante (provavelmente poderiam ser 100 episódios, que ainda assim acharia pouco). E isso me preocupa, levando-se em conta que a última vez que me senti assim em relação a uma série de TV foram necessários 6 anos (e muita discussão) para conseguir deixar para trás uma certa ilha misteriosa...
Sou de uma geração que construiu uma imagem de Arnaldo Jabor baseada exclusivamente em sua atuação como cronista político na televisão brasileira - e, conforme fui crescendo e me posicionando politicamente, passei a quase sempre discordar do que Jabor dizia. Pouco sabia de sua prévia história como cineasta, até bem recentemente. O cinema de Arnaldo Jabor é grande, poderoso. Trás alguns trabalhos fracos, como Pindoramae O Casamento, mas estão na sua conta filmes memoráveis como A Opinião Pública, Toda Nudez Será Castigada, Tudo Bem e Eu Sei que Vou te Amar. Este que foi, aliás, o último trabalho seu por trás das câmeras, há quase 25 anos. A cena cinematográfica brasileira sentia falta de Jabor.
A Suprema Felicidade, seu tão aguardado retorno, é um filme transbordante
No entanto, A Suprema Felicidade é também um trabalho bastante irregular, o que fica claro no excessivo empostamento em determinadas sequências, e na falta de capacidade em tornar outras verossímeis, mesmo quando seu objetivo é a lembrança fantasiosa. Não é um filme para se cobrar realismo absoluto, não é esse seu intento, mas há passagens demasiadamente fake, que definitivamente não funcionam (um bom - ou mau - exemplo é a sequência do carnaval de rua). Há ainda um Dan Stulbach ruim, em um personagem horroroso. Como ele permanece mais em cena nos momentos iniciais de A Suprema Felicidade, é natural que o filme demore um pouco para engrenar. No entanto, tudo melhora quando o tempo passa, o protagonista cresce (Jayme Matarazzo segura bem o personagem) e Nanini ganha mais espaço. O veterano ator, volto a destacar, é um show à parte, ilumina a tela, e se torna o verdadeiro dono do filme. Nada mais justo, portanto, que seja o seu personagem o encarregado de encerrar, numa belíssima cena, esse bem-vindo retorno felliniano de Jabor ao cinema.