quinta-feira, 4 de novembro de 2010

[a suprema felicidade]

A Suprema Felicidade
A Suprema Felicidade, 2010
Arnaldo Jabor


S
ou de uma geração que construiu uma imagem de Arnaldo Jabor baseada exclusivamente em sua atuação como cronista político na televisão brasileira - e, conforme fui crescendo e me posicionando politicamente, passei a quase sempre discordar do que Jabor dizia. Pouco sabia de sua prévia história como cineasta, até bem recentemente. O cinema de Arnaldo Jabor é grande, poderoso. Trás alguns trabalhos fracos, como
Pindoramae O Casamento, mas estão na sua conta filmes memoráveis como A Opinião Pública, Toda Nudez Será Castigada, Tudo Bem e Eu Sei que Vou te Amar. Este que foi, aliás, o último trabalho seu por trás das câmeras, há quase 25 anos. A cena cinematográfica brasileira sentia falta de Jabor.
A Suprema Felicidade, seu tão aguardado retorno, é um filme transbordante em ternura. Jabor também parecia estar com saudades do cinema. É um olhar absolutamente carinhoso - e, em muito, autobiográfico - do cineasta para o processo de descoberta da vida pelo qual passa um garoto, dos 8 aos 20 anos, no Rio de Janeiro das décadas de 1940 e 1950. Quando consegue transformar essa ternura excessiva em lirismo, Jabor constrói um filme profundamente bonito, dotado de uma nostalgia gostosa. Especialmente quando tem Marco Nanini em cena.
No entanto, A Suprema Felicidade é também um trabalho bastante irregular, o que fica claro no excessivo empostamento em determinadas sequências, e na falta de capacidade em tornar outras verossímeis, mesmo quando seu objetivo é a lembrança fantasiosa. Não é um filme para se cobrar realismo absoluto, não é esse seu intento, mas há passagens demasiadamente fake, que definitivamente não funcionam (um bom - ou mau - exemplo é a sequência do carnaval de rua). Há ainda um Dan Stulbach ruim, em um personagem horroroso. Como ele permanece mais em cena nos momentos iniciais de A Suprema Felicidade, é natural que o filme demore um pouco para engrenar. No entanto, tudo melhora quando o tempo passa, o protagonista cresce (Jayme Matarazzo segura bem o personagem) e Nanini ganha mais espaço. O veterano ator, volto a destacar, é um show à parte, ilumina a tela, e se torna o verdadeiro dono do filme. Nada mais justo, portanto, que seja o seu personagem o encarregado de encerrar, numa belíssima cena, esse bem-vindo retorno felliniano de Jabor ao cinema.

3 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Cara, eu preciso assistir a mais coisas do Jabor, conheço muito pouco da obra dele. E confesso que o trailer desse filme não me animou muito, não. Soou meloso demais, distante dos filmes que ele costumava dirigir antes, mais punks. Mas posso estar errado, só tirarei a dúvida quando vir o filme.

Unknown disse...

Desculpe pelo comentário off-topic, mas a causa é boa:
Acontece amanhã, 8 de novembro, em toda a Rede Cinermark (428 salas dos 52 complexos) o XI Projeta Brasil Cinemark que exibirá as principais produções brasileiras lançadas entre novembro de 2009 e outubro de 2010. Os espectadores poderão assistir a filmes nacionais por apenas R$ 2. Entre os longas-metragens do XI Projeta Brasil estão títulos como ‘Tropa de elite 2’, ‘Nosso Lar’, ‘Chico Xavier’, ‘Sonhos Roubados’, ‘Xuxa em O Mistério de Feiurinha’ e ‘É proibido Fumar’. Ao todo, mais de 30 filmes estarão disponíveis para o espectador. A programação completa e demais informações você encontra no site do Projeta Brasil: http://www.cinemark.com.br/acao/projetabrasil.html. O vídeo está disponível para link ou download no YouTube: http://migre.me/23oOA

Wallace Andrioli Guedes disse...

O filme vale a pena, Rafael, mas realmente é bem menos ácido do que obras como Toda Nudez Será Castigada e Tudo Bem.