quarta-feira, 21 de outubro de 2009

[distrito 9]

Distrito 9
District 9, 2009
Neill Blomkamp



A ideia é genial: aliens chegam à Terra, são inseridos em nossa sociedade, mas acabam, com o passar do tempo, confinados em uma grande favela, sofrendo com problemas como preconceito, miséria, fome e violência. Os trailers de Distrito 9 também eram geniais, mostrando tratar-se aqui de uma ficção-científica com forte cunho social, chegando até a esconder em alguns momentos o verdadeiro tema do filme. 
O resultado final não foi a obra-prima que, ao menos eu, imaginava que seria. Mas verdade seja dita: Distrito 9 é um filme cheio de acertos. A forma como o diretor Neill Blomkamp se utiliza da linguagem documental (tanto nas cenas de "câmera na mão" quanto nos depoimentos), num diálogo com o gênero mockumentary, mas nunca se prendendo totalmente a ele como fazem outras obras, beira o brilhantismo. Ao mesmo tempo que serve como introdução à história contada, funciona como exacerbador de tensão nas sequências de ação - e também no olhar sobre a miséria em que vivem aqueles aliens. Aliás, é também admirável como Blomkamp retrata estes, especialmente em suas relações com os humanos. Os "visitantes" são mostrados como seres complexos, dotados de uma certa "humanidade" (na falta de um termo melhor) mas sempre ameaçadores, o que acaba entrando em choque com a verdadeira violência proveniente dos terráqueos. Assim, se num primeiro momento sentimos medo dos aliens, ao os vermos sendo tratados com brutalidade absurda pelos homens, logo esse sentimento começa a mudar. E Christopher, o alienígena que ganha maior desenvolvimento, é uma figura não menos que encantadora em sua simplicidade. Talvez ele seja o verdadeiro "herói" de Distrito 9. Digo isso porque aquele personagem que teoricamente assumiria esse posto, vivido pelo excepcional Sharlto Copley, é alguém que dificilmente poderia ser definido como tal. Wikus van der Merwe é um sujeito egoísta, preconceituoso e movido por um único desejo: salvar a si próprio. Ou seja, é um humano (e não deixa de ser curioso como, no filme de Blomkamp, chamar alguém assim acaba sendo quase um insulto). Também é curioso que, justamente num dos grandes acertos de Distrito 9 (essa crítica ao comportamento preconceituoso e sectário do homem), resida uma de suas fraquezas: a caracterização exageradamente vilanesca de alguns personagens, que acaba banalizando um pouco o conflito ali apresentado, pintando em preto e branco relações que vinham sendo mostradas com muito mais nuances. Me refiro principalmente ao líder do batalhão de operações especiais da MNU, que surge em cena como um sádico brutal e inescrupuloso, que sorri e faz discursos triunfantes e cruéis antes de dar fim à vida de alguém. Essa necessidade de ter um vilão bem definido atrapalha Distrito 9 - parece-me o tipo de concessão que um filme como esse acaba tendo de fazer ao adentrar no gênero ação. 
Aliás, por mais empolgante e envolvente que seja (e o é, e muito), a verdade é que o trabalho de Blomkamp funciona muito melhor como comentário social - ou seja, quando se debruça sobre as relações entre homens e aliens - do que quando se torna um filme de ação na concepção mais tradicional do termo. Confesso que esperava, de alguma forma, uma ficção-científica mais intimista. Distrito 9 é, pelo contrário, uma obra grandiosa. E é também, mesmo com seus pequenos problemas, um grande filme.

Um comentário:

Rafael Carvalho disse...

Nossa, todo mundo só tem falado bem desse filme, é impressionante. Verei assm que puder!