domingo, 3 de maio de 2015

Vingadores: Era de Ultron

 

Com adorável despretensão e clima tirado diretamente das matinês de outrora, Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra foi um intruso um pouco inesperado entre os filmes de maior bilheteria de 2003. Isso porque, naquele ano, não parecia haver muito espaço para outros blockbusters diante das estreias da segunda e terceira partes de Matrix e do capítulo final de O Senhor dos Anéis (além de X-Men 2 e Exterminador do Futuro 3, para nos restringirmos às continuações). Ainda assim, Piratas do Caribe arrecadou mais de 600 milhões de dólares mundo afora, ficando à frente, inclusive, de Matrix Revolutions, e ainda conseguiu uma inusitada indicação ao Oscar para Johnny Depp, ator até então respeitado por sua constante busca por papeis originais e que finalmente parecia se transformar num astro.

Logo em seguida, no entanto, Piratas do Caribe ganhou duas sequências que até tinham alguma qualidade (sobretudo O Baú da Morte), mas que representaram um abandono completo da despretensão do primeiro filme, em prol do inchaço da trama, que aumentara consideravelmente em escala e ganhara um bocado de novos personagens. Além disso, Depp passou a repetir os trejeitos do pirata Jack Sparrow, transformado em fenômeno pop, em praticamente todos os filmes que fez a partir dali, pouco a pouco abandonando a antiga busca por originalidade que o tornara celebrado por tantos e se tornando sinônimo daquela esquisitice calculada que tão bem cabe nos últimos filmecos de Tim Burton.

Sob certos aspectos, Vingadores: Era de Ultron parece começar a traçar caminho semelhante para o grupo de heróis da Marvel no cinema. Ainda que o primeiro filme, de 2012, não fosse pequeno em escala – e tampouco uma aposta arriscada nas bilheterias, já que se tratava da culminância de diversos filmes-solo bem-sucedidos –, havia nele um clima de aventura despretensiosa, uma espécie de chute no balde da seriedade que se passou a exigir de adaptações cinematográficas de quadrinhos, sobretudo depois da passagem de Christopher Nolan por Gotham City. Isso se perde na continuação, que, assim como Piratas do Caribe 2 e 3, aposta numa trama inchada, recheada de personagens novos e com um tom um tanto mais sério que o do primeiro Vingadores. E há, claro, Tony Stark, uma espécie de Jack Sparrow Reloaded, personagem cuja graça se perdeu há muito tempo e cujos trejeitos Robert Downey Jr. insiste em carregar para todos os papeis que interpreta. Como Depp, Downey Jr., também um ator outrora reconhecido por seu talento, se acomodou no papel que lhe rendeu o estrelato – além de alguns milhões de dólares.

É uma pena que Vingadores: Era de Ultron siga por esse caminho. Não só porque seu antecessor era muito bom, mas também pela existência de alguns sopros de vida inteligente no meio de sua trama rocambolesca. Quando o diretor e roteirista Joss Whedon se (e nos) permite respirar, coisas boas aparecem: a piada envolvendo o martelo de Thor, que toma considerável tempo de tela (sobretudo para uma piada, em um filme que é cheio delas) e é retomada em momento posterior da narrativa, em demonstração rara de timing cômico de Whedon; o espaço dado ao personagem de Jeremy Renner, que injeta alguma humanidade numa história que tenta o tempo todo impressionar pela grandiosidade. Mas são pequenas calmarias diante da tempestade que é Era de Ultron. E o que mais assusta é que a coisa vai aumentar. O nome do próximo filme, que na verdade será dividido em duas partes, já dá a pista: Guerra Infinita. Com bilhões de arrecadação no horizonte, como convencer os responsáveis pelos Vingadores de que, muitas vezes, menos é mais? Nem a proximidade do exemplo de Piratas do Caribe – e de outras franquias que se enrolaram em suas próprias pretensões, como Matrix e O Hobbit – parece ser suficiente, infelizmente.

Vingadores: Era de Ultron 
Avengers: Age of Ultron, 2015
Joss Whedon

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