terça-feira, 2 de julho de 2013

Antes da Meia-Noite



Voltar à história de Jesse e Céline é uma decisão um tanto arriscada do diretor Richard Linklater, nove anos após encerrar Antes do Pôr-do-Sol ao som de Nina Simone e apontando para uma inevitável vida a dois. Antes da Meia-Noite, a terceira parte da jornada cinematográfica do casal interpretado por Ethan Hawke e Julie Delpy, reencontra os personagens um pouco mais envelhecidos, com duas lindas filhas e um casamento (nunca oficializado) aparentemente estável. Mas Linklater opta por inserir aí uma pequena crise, daquelas que começam com uma fagulha, uma oposição de ideias, e que vai tomando proporções catastróficas. "É a maldita rotina!", diriam muitos. Cada palavra dura de Céline para Jesse e cada comentário irônico de Jesse para Céline doem também no espectador, testemunha e cúmplice do nascimento desse amor que agora se esfacela diante dos seus olhos. Quase dá vontade de perguntar a Linklater com que direito ele estraga essa história de amor que também é nossa, questionamento ao que ele provavelmente responderia dizendo: "com o direito de alguém que, aos 53 anos de idade, sabe que a história não termina quando o sonho começa".

Mas fiquemos tranquilos, pois nem tudo é sofrimento em Antes da Meia-Noite: a saudade dos filmes anteriores é saciada com a volta dos longos planos tão característicos, dos diálogos espertos, recheados de ironia e referências culturais, as atuações despojadas de Hawke e Delpy, a doçura dos pequenos gestos que nos encantam nesses dois personagens. O novo filme de Linklater não é um Closer. Felizmente. O clima ainda é de leveza, aquele olhar terno para a vida continua presente, e a crença do diretor/roteirista em seus personagens ainda não morreu. A fagulha que se acendeu há dezoito anos, em Antes do Amanhecer, talvez ainda renda algumas chamas inesperadas em Jesse e Celine. Felizmente. Para eles e para nós.


Antes da Meia-Noite 
Before Midnight, 2013
Richard Linklater

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