Há uma cena em Soldado Anônimo, de Sam Mendes, na qual soldados norte-americanos enviados para o Iraque, durante a Guerra do Golfo (1991), assistem Apocalypse Now e vibram alucinados com a sequência do ataque dos helicópteros comandados por Robert Duvall a um vilarejo vietnamita. Claramente, aqueles personagens do filme de Mendes não entenderam a obra-prima de Francis Ford Coppola. Revendo Armageddon, tive a sensação de que seu diretor, Michael Bay, sofre desse mesmo mau.
Responsável por outras preciosidades belicistas como a trilogia Transformers e o dramalhão Pearl Harbor, Bay parece usar seus filmes como mera desculpa para destilar seu ufanismo insuportável, manifestado especialmente num indisfarçável encanto e empolgação com o poderio militar norte-americano. Armageddon é sobre um meteoro gigantesco prestes a colidir com a Terra e levar a humanidade à extinção, mas, ainda assim, o diretor consegue fazer do filme uma peça de propaganda da grandiosidade da América e da mentalidade imperialista tacanha de parte de sua sociedade. Bandeiras azuis, vermelhas e brancas tremulam desavergonhadas por todo o filme e a ideologia do "sou um americano cowboy bad-ass", encarnada particularmente pelo personagem de Bruce Willis, predomina na narrativa. Há comentários sobre os poucos recursos que o governo destina para a indústria bélica, um discurso de Willis, à frente de uma bandeira norte-americana, sobre a importância da família para aquelas figuras toscas, e um olhar grandioso para cada objeto da NASA ou das Forças Armadas. Sutileza é palavra inexistente no dicionário do sr. Bay.
Outra coisa que assusta, e que torna Armageddon" um filme realmente ruim (já que obras-primas cinematográficas politicamente nojentas são possíveis), é a incapacidade que Michael Bay tem de sentar na cadeira de diretor e fazer um trabalho minimamente digno. Oriundo do universo dos videoclipes, o sujeito tem uma dificuldade imensa de manter sua câmera parada, por 5 segundos que seja, ou de construir um plano que dure algo próximo disso. Com tantos cortes e tremeliques, é difícil não chegar zonzo ao fim de Armageddon, um longa que, para completar, ainda tem atuações sofríveis, diálogos constrangedores e a pior história de amor da história do cinema (entre Ben Affleck e Liv Tyler). Resta a vergonha de um dia, há muito tempo, ter adorado esse abacaxi em forma de filme.
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