quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Homem da Máfia



O retrato ultraviolento e nada glamouroso das atividades mafiosas lembra um pouco o cinema de Scorsese, particularmente Os Bons Companheiros; os personagens conversando sobre assuntos que pouco se relacionam com o tema central da narrativa apresentada remetem aos filmes de Tarantino; no entanto, O Homem da Máfia, terceiro longa-metragem do cineasta neozelandês Andrew Dominik, é cheio de estilo próprio.

Depois de realizar o belíssimo O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, o diretor optou por um trabalho de tom bastante diverso: sai a contemplação quase existencialista daquele western, entra a urgência de um thriller urbano  pautado por um pungente comentário social sobre os efeitos da atual crise econômica nos Estados Unidos. Dominik consegue equilibrar com maestria seu olhar crítico para a sociedade americana com a tarefa de contar uma boa história, com personagens minimamente interessantes. Assim, ao mesmo tempo que as figuras interpretadas por Ray Liotta, James Gandolfini, Richard Jenkins, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn e Brad Pitt despertam os mais diversos sentimentos no espectador (como não temer o personagem de Pitt e sentir pena do de Liotta, por exemplo?), que efetivamente se interessa por seus respectivos destinos, o impacto da crítica social feita por Dominik é avassalador.

Desde sua primeira cena, O Homem da Máfia é perpassado por discursos da campanha presidencial de 2008, especialmente aqueles proferidos pelo então candidato Barack Obama, que são constrastados com a realidade dura em que se passa a história narrada. O otimismo e o senso de comunidade presentes nas palavras do futuro presidente parecem ter pouco (ou nada) a ver com o individualismo, a ganância e a miséria que marcam a existência dos personagens do filme de Dominik, algo que se explicita de maneira radical no brilhante - e apavorante - diálogo travado por Pitt e Jenkins nos momentos finais de O Homem da Máfia. Está posto então diante de Obama, sem meias palavras, o imenso desafio que seira enfrentado pelos próximos quatro (agora oito) anos. É difícil não se compadecer do sujeito. 



O Homem da Máfia 
Killing them Softly, 2012
Andrew Dominik

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo filme... Interessante notar a diferença do estilo entre este e O Assassinato de Jesse James...

Concordo inteiramente com as comparações com Scorsese e Tarantino e acho que o filme tb lembra Driver, principalmente por esse lado mais artístico.

Rafael Carvalho disse...

Essa coisa da crítica social me parece o grande forte do filme porque ela nunca é direta nem explícita, mas está a todo momento ali presente no jogo sujo dos personagens. É como se os negócios da máfia entrassem na equação das instâncias financeiras que regem o capitalismo atual. E faz tudo isso sem levantar bandeira. Só acho que o filme perde um tanto o ritmo quando se concentra nessas conversas tarantinescas (as cenas com o personagem do Gandolfini são as que mais pontuam isso). Mas o final reforça muito bem as vicissitudes desse esquema sujo. Acabei me surpreendendo com o filme.