terça-feira, 20 de dezembro de 2011


[o garoto da bicicleta]


O Garoto da Bicicleta 
Le Gamin au Vélo, 2011
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne


Ainda que pelos caminhos tortuosos do cinema dos irmãos Dardenne, O Garoto da Bicicleta é um filme profundamente otimista. Não que não se trate de uma narrativa dura com seus personagens, como costumeiramente ocorre na filmografia dos diretores, mas aqui, diferentemente do que fizeram em obras como Rosetta e A Criança, os Dardenne parecem apontar para um possibilidade de fuga, de salvação. E, surpresa, esta surge através do amor, do incondicional amor de uma mulher solitária por uma criança - vividos, respectivamente, pelos maravilhosos Cécile de France e Thomas Doret.
Pelos olhos dos diretores, no entanto, essa história é contada, como seria de se imaginar, sem um pingo de melodrama: estão presentes a estética (neo?)realista (como não pensar nisso diante da importância dada a uma bicicleta?), a câmera na mão, a narrativa seca, o trato brutal com os personagens. O respiro nisso tudo surge em pequenos, mas importantes, detalhes, como o uso pontual da música (algo pouco comum nos filmes dos diretores), mas, principalmente, na sequência final de O Garoto da Bicicleta. Ali, os Dardenne parecem estar no limiar entre dar o rumo esperado (ao menos por aqueles que conhecem um pouco o cinema dos irmãos belgas) para seu protagonista ou apontar para um novo caminho, e a forma como a transição entre essas duas opções ocorre é impactante justamente por sua sutileza e naturalidade. E, no fim das contas, não é melhor mesmo que seja assim?

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante ter dito que o filme é "otimista", sendo que o único filme que vi dos Dardenne (o Rosetta) mostrava uma garota vivendo uma situação ferrada e sem perspectiva de melhoria alguma - ainda que o último plano do filme seja revelador.

Rafael Carvalho disse...

Essa coisa do otimismo nesse filme me parece ensencial. Os Dardennes trabalham sempre na mesma estética que eles consagraram (da qual são senhores totais), mas mesmo assim, a cada novo filme, parecem tentar acrescentar uma coisa nova, sem sair do caminho a quel eles estão acostumados. E aqui o fator novidade é essa faísca de esperança que eles conseguem injetar na história. Mesmo assim, não chega a ser dos meus preferidos deles, mas é um grande filme.

PS: Muito legal a sacada da biclicleta e o possível (neo)realismo. =D