[trabalhar cansa]
Trabalhar Cansa, 2011
Juliana Rojas e Marco Dutra
O que mais impressiona em Trabalhar Cansa é a fluidez com que seus diretores trafegam entre o drama familiar e o horror macabro. Melhor: o horror macabro é aqui, parte componente fundamental do drama familiar, mas não no sentido comum de tantos filmes que buscam apenas gerar medo no espectador - o desespero existencial em que vivem aqueles personagens é concretizado, em tons alegóricos, nos momentos de horror do filme.
Tudo muito bonito e sofisticado, mas com forte propensão para o fracasso, não fossem as mãos firmes de Juliana Rojas e Marco Dutra, que constróem uma narrativa baseada no mínimo, em pequenos momentos intimistas que acentuam, aos poucos, o inferno em que mergulham os protagonistas de Trabalhar Cansa. O desemprego, a busca por um novo empreendimento, o casamento estável que flerta com o tédio, as relações trabalhistas com a empregada doméstica... há um indefinível descompasso nisso tudo, no verniz de civilidade que rege toda a existência em sociedade (daí a força gigantesca da apoteótica cena final, que também coroa o desempenho brilhante de Marat Descartes). Descompasso que, justamente por ser indefinível, é sabiamente manifesto no filme através do estranho, do macabro, do sobrenatural, de uma maneira que gera incômodo por si só, ao mesmo tempo que torna o drama dos personagens insuportavelmente intenso. Apavorante como filme de horror e poderoso enquanto drama familiar/social, Trabalhar Cansa é o grande filme que é por conseguir, com tamanha propriedade, fazer desses dois gêneros uma coisa só.
Um comentário:
Eu gosto do filme, mas ainda acho que parece faltar alguma coisa no final, uma conclusão mais consistente, mais forte. Porém me fascina no filme como esse passeio pelo cinema de gênero não está calcado em princípios e lugares-comuns já conhecidos. Talvez daí o (bom) incômodo. Pelo menos, a dupla de diretores tam a intenção de criar algo novo, que dá uma cara nova a nossa produção. Espero que eles continuem seguindo a mesma trajetória, só que da próxima vez que seja mais intenso.
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