

A Árvore da Vida é o filme mais difícil de Terrence Malick e não há nenhuma surpresa nisso. Se quando tratou de grandes eventos históricos (em Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo) o diretor já construíra trabalhos de complicado acesso para um público acostumado com um cinema puramente narrativo, ao tomar como tema a existência humana e seus muitos porquês Malick se permite todo tipo de devaneio - chegando ao ápice de filmar a origem da vida numa belíssima e devastadora sequência que acaba por produzir, num primeiro momento, uma incômoda sensação de pequenez do drama mostrado diante da grandiosidade do poder de criação e destruição da natureza (ou seria de Deus?).
Mas Malick é um humanista e seu interesse é primordialmente a vida humana. Daí a dedicação de sua câmera aos personagens que povoam A Árvore da Vida pelo resto de sua duração ser tão impressionante: ela se move com eles, se aproxima, parece encantada por aqueles pequeninos seres vivos que, em sua estranha complexidade, são absolutamente únicos. A delicadeza com que o diretor acompanha o cotidiano de uma família no Texas da década de 1950, sob os olhos de um dos filhos que a compõem, é típica de seu cinema - Malick parece ter um grande carinho por aqueles personagens, e mesmo a figura do pai autoritário interpretado por Brad Pitt exala amor e preocupação (de seu próprio modo) pelos seus.
Esse momento intermediário de A Árvore da Vida, que vai do pós-origem da vida até as proximidades da sequência final, é o de mais fácil apreensão - ainda que não estejamos falando de uma narrativa clássica, tradicional, e que esse longo trecho seja permeado pelo uso escasso de diálogos e pelo off carregado de reflexões filosóficas que tanto marcaram os últimos filmes do diretor (na verdade, se bem me lembro, apenas Terra de Ninguém não é composto dessa forma). Bem, talvez "fácil" não seja o melhor termo a ser usado aqui... já o todo do filme é praticamente impossível de ser apreendido e devidamente apreciado assim, numa tacada só. Me lembro de ter precisado assistir Além da Linha Vermelha (ainda meu favorito de Malick) três vezes até entender toda sua força - o que certamente significa que ainda tenho algumas revisões de A Árvore da Vida pela frente. Por enquanto, o que fica é a impressão (e só isso) de um filme muito, muito bonito.