quinta-feira, 16 de dezembro de 2010


[você vai conhecer o homem dos seus sonhos]

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos
You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010
Woody Allen


Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é um ótimo contraponto ao filme imediatamente anterior de Woody Allen, Tudo Pode Dar Certo. Enquanto na comédia protagonizada por Larry David o diretor novaiorquino exibia um inusitado e contangiante otimismo - mesmo que através de um protagonista neurótico e amargo -, nesse seu novo trabalho Allen mergulha seus personagens em um clima de pessimismo quase total, ainda que isso nem sempre fique claro num primeiro olhar. Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos pode parecer uma simples comédia romântica com toques dramáticos, com um grupo de personagens correndo em busca do amor, mas o filme é bem mais amargo e ambicioso do que isso - algo que fica bem claro em seus momentos finais, quando tudo simplesmente começa a dar errado para todos os seus personagens (e quando Allen faz uma desiludida defesa da capacidade de auto-ilusão do ser humano). É aqui que o longa se contrapõe de vez a Tudo Pode Dar Certo e passa a fazer um belo conjunto com outras obras do diretor, de viés mais trágico (Crimes e Pecados, Match Point e O Sonho de Cassandra). Afinal, se pensarmos na vida daqueles personagens continuando após os créditos finais de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, não seria nada surpreendente que alguns deles tomassem medidas drásticas diante dos rumos de suas vidas - especialmente no caso do escritor vivido por Josh Brolin.
No entanto, é importante dizer que estamos aqui diante de um filme menor de Woody Allen. Apesar da aproximação com os filmes citados acima, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos passa longe da força dramática de um Crimes e Pecados ou de um Match Point. Os atores parecem preguiçosos em cena (principalmente Antonio Banderas, uma nulidade total) e a trama simplesmente não engrena. Brolin é quem, mais uma vez, se destaca no elenco, e é com seu personagem que mais nos preocupamos durante o filme. A impressão é, em alguns momentos, de que estamos diante de um daqueles trabalhos esquecíveis que Allen costuma fazer no intervalo de obras memoráveis (só para ficarmos nessa década, vale lembrar da despretensiosa comédia Scoop, por exemplo, produzida entre Match Point e O Sonho de Cassandra), no entanto, ainda assim, o filme tem seus méritos e, como disse no início, é muito mais sério e pessimista do que pode aparentar à primeira vista. Um filme menor de Woody Allen ainda é cinema de qualidade.

7 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Não sou fã de Allen, um ou outro filme que eu tive prazer em ver e refletir.

Quero conferir este filme, mas sem pressa. Seu texto está ótimo!

Preferi "vicky cristina barcelona" e "Match Point" porque são filmes que saem um pouco da mesmice de Allen que só fala de neurose, hipocondria, numas semelhanças nos roteiros que me irrita...rs

abraço!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Obrigado pelo elogio ao texto, Cristiano.
Pois então, eu amo o cinema do Allen. Costumo dizer que não vivo sem seus filmes. Acho que compartilho de muitas das suas neuroses...

Anônimo disse...

filme apenas bom... longe daquilo que woody allen pode realizar com seu talento


http://filme-do-dia.blogspot.com/

Rafael Carvalho disse...

É muito interessante como existe uma possibilidade de amargura na vida daqueles personagens que o filme parece não querer assumir nunca, somente sugerir. Mas vale lembrar que muitas desses problemas e situações difíceis são reflexos de algumas de suas próprias escolhas errôneas, os rumos tomados nem sempre são os melhores e bem-sucedidos. Mas tudo é embalado com o bom-humor costumeiro do diretor, embora talvez esse seu filme mais fracos dos últimos anos (mais até do que Scoop). As intenções sãos as melhores, no entanto. Gemma Jones está ótima.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Eu acho esse melhor que SCOOP.

Giliard Tenório disse...

Fala Wallace! Parabéns pelo blog, vou conferir com mais assiduidade.

Sobre este novo filme de Allen, concordo com grande parte das suas críticas. Mas vale a pena lembrar que as velhas marcas do diretor estão presentes na personagem da mãe da Naomi Watts. Afinal de contas, ironicamente, td dá certo para ela, e a sua vidente acerta tdas! Esse jogo de extremos foi o melhor do filme.

E vale a pena lembrar q Scoop foi um filme para a TV britânica, nem chegou aos cinemas, o q, na minha opinião, perdoa o diretor pelo momento de baixa inspiração.

Abraço!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Gilliard, que bom te ver por aqui!
A personagem da Gemma Jones é uma das melhores coisas do filme, mas acho que o fato de as coisas funcionarem para ela só reforça a mensagem pessimista do Allen no final: no fim das contas, o melhor é se iludir mesmo.
Escuta, até onde sei SCOOP foi lançado nos cinemas sim...
Abraço.