Como tornar minimamente interessante um filme sobre a criação do Facebook? Seria, aliás, sequer possível construir um longa-metragem sobre uma rede social virtual? E o que um diretor como David Fincher fazia em um projeto como esse? Confesso ter-me feito perguntas como estas quando soube do projeto A Rede Social, e, durante um bom tempo, as tive como guia na formação de minha visão antecipada sobre tal filme - algo que durou, pelo menos, até o lançamento de seu primeiro trailer.
Contra todas as previsões, Fincher, dando continuidade ao processo de transformação de seu cinema inventivo e provocativo em algo mais palatável e tradicional - mas, ainda assim, de alta qualidade -, consegue transformar a trajetória de dois jovens universitários que criaram um site de relacionamentos que hoje faz parte da vida de pessoas de todos os cantos do mundo (e que poderia muito bem ter rendido um documentário, por exemplo, talvez o formato mais óbvio para um filme como este), em uma obra de ficção carregada de carga emocional. A Rede Social é um filme bastante adulto sobre um mundo jovem, um drama maduro que se alicerça em uma trama simples para mostrar não só o nascimento de um fenômeno virtual, mas principalmente para contar uma boa história, com personagens bem desenvolvidos e uma narrativa segura de si, muito bem construída e conduzida.
Fincher, que um dia embrulhou estômagos e causou polêmicas com obras como Seven e Clube da Luta, agora entrega um trabalho bem menos pesado e ousado, mas que se leva tão a sério (ou até mais) quanto seus primeiros - e mais celebrados - filmes. Esse é, definitivamente, o grande acerto do diretor. É pela postura de nunca desmerecer uma história que poderia parecer banal que Fincher consegue fazer de A Rede Social uma obra admirável, com um elenco jovem inspiradíssimo (Jesse Eisenberg é mesmo excelente, mas, em minha opinião, o grande nome do filme é Andrew Garfield, adorável em seu bom-mocismo e comovente como vítima de seu melhor amigo) e uma história envolvente. É por levarem seu filme a sério que Fincher e o roteirista Aaron Sorkin fazem com que momentos como aquele em que surge a ideia para a inclusão do "status de relacionamento" no perfil do usuário do Facebook - algo que pode soar idiota hoje em dia - sejam fundamentais para a narrativa. A Rede Social é irretocável enquanto cinema e acaba se transformando, talvez à revelia de suas pretensões iniciais, em um despretensioso, mas poderoso, retrato de uma geração.
4 comentários:
uma boa história contada de um jeito extraordinário.
http://filme-do-dia.blogspot.com/
Ótimo seu texto.
mas, eu, infelizmente, não concordo integralmente contigo.
Acho que é um filme bom sim, tem seus méritos e a trama representa bem o mundo que vivemos hoje - em seus aspectos da virtualidade; da relação social; das amizades dúbias e todos os outros questionamentos que o filme faz.
Mas, ainda que o elenco conceba uma interpretação louvável - de fato Eisenberg e Garfield impressionam, até mesmo Timberlake - eu não achei o filme essa obra-prima não.
A dinamica exagerada, o senso verborrágico dele, me irritou um pouco...cansou, na verdade.
Mas, é questão de gosto mesmo.
Abraço!
Cristiano, apesar de gostar muito de A REDE SOCIAL, não chego a considerá-lo uma obra-prima. No entanto, seu caráter verborrágico não me incomodou não, acho, aliás, que a qualidade dos diálogos é um dos maiores méritos do filme.
O filme realmente têm os seus méritos, mas foi pintado como genial. Isso realmente eu não achei. Muito bom o texto (como sempre). Abraço!
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