sexta-feira, 24 de dezembro de 2010


[abutres]

Abutres
Carancho, 2010
Pablo Trapero


Abutres foi o terceiro filme que assisti de Pablo Trapero, um dos mais badalados cineastas argentinos do momento. E acho que posso dizer que é o melhor deles. Pela primeira vez realmente me importei com os personagens de um filme de Trapero, senti as imagens criadas pelo diretor pulsarem na tela (algo que não percebo em Do Outro Lado da Lei e em Leonera, ainda que tenha que rever este segundo).
Visceral é uma boa palavra para definir Abutres. A trama é absurdamente simples, remete aos muitos filmes já produzidos sobre dois habitantes de um universo violento que encontram, um no outro, conforto e saída para suas duras realidades (só para citar um, que foi mesmo o primeiro que me veio à mente diante do filme de Trapero, o maravilhoso e comovente Despedida em Las Vegas, com Nicolas Cage e Elisabeth Shue). O diretor se embrenha, aos poucos, neste mundo, indo de uma narrativa que aparenta, em seu início, uma mera sucessão de episódios repetidos (os salvamentos da personagem de Martina Gusmán e os golpes de Ricardo Darín), para uma crescente tentativa de livrar o casal de protagonistas de tamanha brutalidade, o que gera momentos absurdamente angustiantes - culminando na espetacular sequência final. Por vezes, Abutres lembra o cinema de Alejandro González Iñarritu, especialmente Amores Brutos - em sua estética suja, nervosa, e em seu olhar de compaixão para personagens marginalizados, de moralidade ambígua -, mas sem as doses incômodas de pretensão que costumam atrapalhar os filmes do mexicano (vide Babel). Um filme pequeno, mas que se garante nas interpretações fortes de seus protagonistas e na direção impecável de Trapero.

2 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Gosto muito de Família Rodante, do Trapero. Empata com esse novo, mas é inegável como ele filme bem. E ainda consegue se manter entre o comercial e o artístico. A sequência final é um choque! E agora que você fez uma relação com Amores Brutos (que eu acho uma obra-prima, longe de pretensões), os filmes têm mesmo similaridades, tanto no aspecto "sujo" quanto na brutalidade que adentra a vida dos personagens.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Ainda não vi FAMÍLIA RODANTE, Rafael. Tenho muita curiosidade quanto ao NASCIDO E CRIADO, um dos mais elogiados dele.
Sobre AMORES BRUTOS, eu vi há muito tempo, mas tenho uma lembrança muito positiva dele. Acho que o lado pretensioso do Iñarritu se manifestou mais nos seus trabalhos posteriores, especialmente no BABEL. Mas, ainda assim, gosto dos seus filmes.