[primeiro plano 2010 - festival de cinema de juiz de fora e mercocidades]
Ocorreu entre os dias 16 e 21 de novembro mais uma edição do Primeiro Plano - Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, em sua 9ª edição. Nesse ano, mais uma vez, me dediquei muito pouco aos curta-metragens, o que lamento, mas, ao menos, consegui assistir a quase todos os longas exibidos. Deixo, a seguir, minhas impressões sobre eles:
Este, na verdade, foi assistido alguns dias antes do Primeiro Plano, mas como não havia ainda escrito sobre ele aqui no blog, aproveito a oportunidade. É um bom exemplar de um cinema jovem carregado de melancolia, que tenta tornar palpável o vazio que por vezes permeia a condição da juventude no mundo contemporâneo. Os Famosos e os Duendes da Morte funciona principalmente quando tem seu protagonista interagindo com figuras mais velhas, especialmente sua mãe, vivida com delicadeza por Áurea Baptista Ali fica claro a distância entre suas gerações e, ao mesmo tempo, a proximidade entre aquelas duas pessoas, proximidade que, quando reconhecida, gera momentos de enorme singeleza. No entanto, o filme perde força quando se dedica excessivamente à subtrama da garota suicida e de seu misterioso namorado que retorna à cidade. Todas as vezes que Esmir Filho se dedica a esses personagens, sua obra se torna chata, arrastada e menos admirável. De qualquer forma, qualquer filme que tenha Bob Dylan na trilha sonora já merece ser respeitado...
Documentário carinhoso, mas bastante convencional, sobre o concurso Miss Brasil Gay e seus participantes, centrado, especialmente, na figura da Miss Rio de Janeiro, um jovem de Rondônia que vem para o Sudeste tentar realizar seu sonho. As passagens centradas na relação dessa figura com seu namorado são bem bonitas, dão ao filme um bem-vindo caráter de intimismo e delicadeza, mas, quando se centra especificamente no concurso, Rainhas perde força, seu protagonista deixa de ser protagonista, e o documentário se torna apenas um filme comum sobre um concurso de Miss. Nesses momentos menos interessantes, no entanto, o que ainda garante alguma qualidade é a presença da Miss Maranhão, figura impagável, alívio cômico acertado do filme - ainda que o clima de Rainhas não seja, de forma alguma, pesado, voltado para o drama, até porque, como disse no início, esse é um olhar bastante carinhoso para o universo das transformistas.
A agradável surpresa do Festival. De uma premissa aparentemente pretensiosa, que busca questionar as fronteiras entre realidade e ficção através de um cinema de pesquisa de linguagem, a diretora Christiane Jatahy conseguiu fazer um filme instigante e com grande carga emocional. Aliás, é justamente daí que A Falta que nos Move tira sua grande força: da interação entre seus atores/personagens, que tornam palpáveis e dolorosos os conflitos e o convívio daquele grupo de pesssoas. É somente por ser dramaticamente efetivo, por envolver e emocionar com as figuras humanas que apresenta, que o filme consegue tornar válida sua discussão sobre a tênue linha que separa o que é real e o que é encenado. Às vezes é um pouco cansativo, às vezes algumas falas soam por demais fake. Mas, no fim, é difícil não começar a se importar com aquelas cinco pessoas, com os atores e com os personagens interpretados por eles - e vê-los todos chorando para a câmera, na catártica cena conduzida pelo excelente Pedro Brício, é de cortar o coração.
Filme argentino bem esquisito esse aqui. É um drama sobre a vida na Argentina nos anos de ditadura militar, mas o tema da repressão e da tortura é muito pouco enfocado, por mais que o diretor Daniel Bustamante pareça querer abordá-lo - mas, aparentemente, não sabia como. É também um drama familiar, onde os personagens são todos muito mal desenvolvidos, unidimensionais, e mesmo um tanto estranhos, eu diria. Por fim, Andrés Não quer Dormir a Sesta é uma história sobre a perda da inocência de um garoto em tempos de violência, como tantos e tantos outros filmes já produzidos (só para ficar no contexto das ditaduras militares na América Latina, poderia ser citado o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, belíssimo trabalho de Cao Hamburguer), no entanto, Bustamante, inexplicavelmente, transforma seu protagonista em um pequeno vilão de filme de terror, gerando uma cena final entre o garoto e sua avó que beira o ridículo. Aliás, a personagem da avó é interpretada pela grande Norma Aleandro, presença inusitada em um filme tão fraco.
Um comentário:
Daí só vi Os Famosos e os Duendes da Morte e por mais que o intento seja dos melhres (o mundo dos adolescentes poucas vezes é abordado no cinema brasileiro), acho que o filme se perde com tantas subtramas, quase como que atirando para muitos lados, buscando ser cult ou forçadamente melancólico. A fotografia, no entanto, é maravilhosa, talvez uma das melhores do ano.
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