domingo, 28 de dezembro de 2008

Sete Vidas



Assim como no belo À Procura da Felicidade, esse Sete Vidas, segunda parceria entre o diretor italiano Gabriele Muccino e Will Smith, permanece se equilibrando sobre uma tênue linha que separa um drama sensível de um melodrama que beira a auto-ajuda. No entanto, se o longa de 2006 transbordava em emoção, fazendo-nos relevar os lugares-comuns nos quais se alicerçava (já que, no fim das contas, o filme era mais uma daquelas batidas celebrações do american way of life, da possibilidade de ascensão social pelo próprio esforço na sociedade norte-americana), esse Sete Vidas acaba soando frio demais, e, quando tenta ser mais emocional, descamba para um artificialismo que incomoda bastante.

É bem verdade que o filme tem lá seus méritos, sendo Will Smith o mais óbvio deles: vivendo um momento esplendoroso em sua carreira, o astro entrega mais uma atuação carregada de carisma, ainda que não alcance a força de seus melhores desempenhos, como em Ali e no já citado À Procura da Felicidade. É graças a Smith que conseguimos possuir algum tipo de interesse no protagonista de Sete Vidas, que, nas mãos de alguém menos talentoso, facilmente se transformaria em um mártir artificial, em um herói romântico irritante. Os coadjuvantes do longa também funcionam bem de forma geral, com destaque para Rosario Dawson, bastante verdadeira no papel de uma mulher doente e sofrida, e para Woody Harrelson, verdadeiramente emocionante, ainda que em participação pequena (sua cena ao telefone com Smith é de cortar o coração, graças à imensa competência de Harrelson). Além disso, Muccino é um diretor talentoso, e cria alguns grandes momentos em seu filme, como a conversa de Smith com uma idosa doente, boa parte das cenas envolvendo o protagonista e a personagem de Dawson e aquelas em que o mesmo interage com uma água-viva, que são as seqüências mais belas, esteticamente falando, do longa (sem contar o já citado diálogo entre Smith e Harrelson ao telefone).

Mesmo assim, Sete Vidas tem um problema grave, que afeta todos esses seus pequenos êxitos, e que faz com que o filme simplesmente não funcione: ele exige do espectador um grau exageradamente elevado de abstração da realidade e de crença naquela história que está sendo contada, sem que Muccino e o roteirista Grant Nieporte contribuam muito para o surgimento natural dessa cumplicidade (como ocorria em À Procura da Felicidade, onde, mesmo sabendo do caráter de excessão daquela história contada, acreditávamos verdadeiramente nela). Daí, fica difícil torcer pelo personagem de Smith, fica difícil acreditar na série de acontecimentos que se desenrola diante de nossos olhos, e, principalmente, fica muito difícil se emocionar com o triste epílogo do filme, mesmo que reconheçamos sua beleza e seu poder dramático. Após a cena final de Sete Vidas, acabei, inevitavelmente, me lembrando do açucarado A Corrente do Bem, ainda que o filme de Muccino não possua nem metade dos exageros melodramáticos que aquele longa possuía. Mas, de qualquer forma, essa é uma comparação que não faz bem a nenhum filme.


Sete Vidas 
Seven Pounds, 2008
Gabriele Muccino

2 comentários:

Bruno disse...

Eu até queria assistir este filme, por conta da parceria do Will Smith com o diretor Gabriele Muccino, pois gostei bastante de "À Procura da Felicidade", mas foram tantas críticas negativas a este filme (e, analisando como um todo, eu incluiria o seu texto neste rol), que perdi a minha vontade de vê-lo. Abraço!

Diego Rodrigues disse...

Até tenho um certo interesse em ver este filme não pelo Will Smith ou o diretor, só por curiosidade mesmo. As críticas foram bem pesadinhas, mas pode ser que me surpreenda como um bom programa no cinema.