sábado, 20 de dezembro de 2008

Um Novo Olhar: O Homem que Não Estava Lá

[o homem que não estava lá]

O Homem que Não Estava Lá
The Man Who Wasn't There, 2001
Joel Coen


Apesar de elogiado, e mesmo premiado, na época de seu lançamento, O Homem que Não Estava Lá acabou sendo um daqueles filmes meio esquecidos da carreira dos irmãos Coen, eclipsado por suas maiores obras, Gosto de Sangue, Fargo e o recente Onde os Fracos Não Têm Vez. Grande injustiça. Apesar de ser, de fato, inferior a esses três filmes, esse longa de 2001 representa um dos melhores momentos do cinema dos Coen.
Esteticamente, O Homem que Não Estava Lá é o trabalho mais rebuscado da dupla. Contando com uma das mais belas fotografias que o cinema recente presenciou (cortesia, como de costume, de Roger Deakins), o filme marca por suas imagens em preto e branco meticulosamente criadas, fundamentais para enviar o espectador aos E.U.A. da década de 1950, e à vida sufocante e frustrada do protagonista, o barbeiro Ed Crane. É difícil pensar esse filme sem o trabalho de Deakins, e, nesse sentido, a fotografia em preto e branco se torna um elemento essencial da narrativa de O Homem que Não Estava Lá, uma vez que contar essa história em cores seria, muito provavelmente, impossível.
A fotografia, aliás, foi responsável pela única indicação do filme ao Oscar 2002 (sendo derrotado por O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel), o que foi uma pena. O Homem que Não Estava Lá poderia, tranqüilamente, ter angariado indicações para os Coen (melhor filme, direção e roteiro) e para o seu excepcional elenco. A começar por Billy Bob Thornton, que, mais do que o protagonista, é o dono do filme. Onipresente, e quase sempre calado, o ator cria um personagem enigmático em sua simplicidade: Ed Crane é um sujeito comum, ordinário, um barbeiro. Mas que, como acabaremos por testemunhar ao longo do filme, carrega em si um enorme potencial para a destruição. Thornton consegue tornar tal personagem identificável para o espectador, levando-nos mesmo a torcer por ele, diante das inúmeras tragédias de sua vida. No entanto, há de se valorizar os trabalhos dos coadjuvantes de O Homem que Não Estava Lá, Frances McDormand, James Gandolfini e, principalmente, Tony Shalhoub, que diante da força da presença de Thornton, não se deixam intimidar, e entregam desempenhos não menos que extraordinários (e merece destaque também a participação da ainda razoavelmente desconhecida Scarlett Johansson, competente no papel de uma espécie de protegida de Crane, a garota responsável pelos momentos em que o barbeiro consegue encontrar alguma esperança na vida).
A verdade é que O Homem que Não Estava Lá é um filme extremamente difícil de se definir. Em muito, é uma história típica do cinema dos Coen, onde um sujeito comum, na busca por melhorar de vida, acaba iniciando uma cadeia de acontecimentos trágicos que parece não ter fim, e que acaba consumindo todos ao seu redor, sendo Fargo o melhor exemplo desse tipo de história contada pelos irmãos, ainda que aqui exista uma diferença fundamental: se em Fargo a história era vista por um olhar externo àquelas tragédias, o da policial vivida por Frances McDormand, aqui ela é contada pelo agente principal das tragédias, o que faz com que o espectador se importe muito mais com o Ed Crane de Billy Bob Thornton do que com o Jerry Lundengaard de William H. Macy, o que não deixa de ser intrigante, já que, no fim das contas, os dois cometeram atitudes reprováveis por conta de um objetivo em comum: sair da mediocridade de suas vidas comuns. No entanto, o filme é mais do que isso. É um drama poderoso, é uma experiência existencialista, é um noir intrigante, e é mesmo uma ficção-científica. Talvez seja essa deliciosa mistura entre cortes de cabelo, lavagem a seco e disco voadores que torne O Homem que Não Estava Lá um filme tão fascinante.

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